Angola tem reservas confortáveis

Fotografia: Francisco Bernardo

Fotografia: Francisco Bernardo

O Presidente José Eduardo dos Santos defendeu ontem em Pequim um maior intercâmbio entre empresários chineses e angolanos, para acompanhar o aumento dos investimentos da China em Angola.

Ao discursar na abertura do Fórum de Negócios China- Angola, o Chefe de Estado angolano disse que o intercâmbio e o aumento dos investimentos em Angola vão ajudar a fortalecer a parceria estratégica entre os dois países.
“Faço-me acompanhar de representantes de algumas empresas angolanas que pretendem conhecer melhor a realidade chinesa e contribuir para tornar mais estreito o intercâmbio e a parceria entre empresas chinesas e angolanas do sector público e privado”, disse.
Angola e China estão a construir e a consolidar uma cooperação mutuamente vantajosa para o desenvolvimento e bem-estar dos respectivos povos, disse o Presidente angolano, dirigindo-se a um auditório constituído maioritariamente por empresários chineses, a quem elogiou pelo papel que desempenham para o crescimento e competitividade da economia chinesa.
O Chefe de Estado reafirmou que as políticas macroeconómicas adoptadas pelo Governo angolano têm sido orientadas no sentido de promover a estabilidade necessária para o crescimento económico sustentável, através de uma acção coordenada das políticas fiscal, monetária e cambial. E deu como exemplo o empenho do Governo em manter há três anos a taxa de inflação na casa de um dígito.
O Presidente falou também das cautelas que o Governo teve em relação às reservas internacionais, apesar da forte pressão resultante da queda do preço do petróleo no mercado internacional. “Dispomos de reservas de moeda estrangeira para garantir mais de sete meses de importações e continuarmos a geri-las cautelosamente para as mantermos num nível de segurança e universalmente aceitável”, frisou.
Outro indicador apontado pelo Chefe de Estado aos empresários é do crescimento que o país continua a registar no seu PIB. “Embora a redução do preço do petróleo constitua uma condicionante para o desenvolvimento da nossa economia, continua a verificar-se um crescimento real do Produto Interno Bruto”, assinalou.
José Eduardo dos Santos lembrou que em 2005 havia em Angola apenas oito bancos comerciais, com 219 agências, enquanto hoje existem 25 bancos comerciais, com uma rede de atendimento composta por 1.466 agências. Para o líder angolano, apesar do crescimento da banca comercial angolana, existe espaço para que outras instituições financeiras, bancárias ou não, possam entrar e ajudar nos esforços de diversificação da economia angolana.
“Temos a perfeita consciência de que o ambiente de negócios é fundamental para uma tomada de decisão da vossa parte e, por isso, o Governo de Angola tem-se desdobrado para oferecer aos investidores nacionais e estrangeiros as melhores condições para os seus negócios”, disse, antes de anunciar que está em curso “uma profunda revisão da lei do investimento privado para atrair investidores estrangeiros para sectores cruciais como da economia”. Depois de presidir à cerimónia de abertura do Fórum de Negócios China-Angola, o Chefe de Estado deslocou-se ao Monumento aos Heróis do Povo, na Praça da Paz Celestial, uma das relíquias históricas da milenar arquitectura chinesa, onde depositou uma coroa de flores.
O Presidente José Eduardo dos Santos deixa hoje Pequim e viaja para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Integram a comitiva presidencial, o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Edeltrudes Costa, e os titulares das pastas das Relações Exteriores, Georges Chikoti, das Finanças, Armando Manuel, do Comércio, Rosa Pacavira, da Agricultura, Afonso Pedro Canga, dos Transportes, Augusto Tomás, da Energia e Águas, João Baptista Borges, do Ensino Superior, Adão do Nascimento, e da Educação, Pinda Simão.

Visita exitosa

O ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, considerou um sucesso a visita de Estado que o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, efectuou à China.
Em declarações à imprensa, à margem do fórum económico que juntou mais de duas centenas de empresários chineses e angolanos em Pequim, Georges Chikoti salientou a forma pragmática com que as delegações dos dois países chegaram a acordo em relação a vários dossiers que estiveram em cima da mesa durante as negociações para novos investimentos chineses em Angola.
“A China aprovou praticamente todas as ideias que Angola apresentou em termos de soluções para diversificação da economia, na actual fase, o que permitiu que assinássemos acordos para financiamento de projectos em áreas estratégicas como a energia e águas, ensino superior, agricultura e desenvolvimento agrário e ciências e tecnologias de informação”, disse o ministro.
Para Georges Chikoti, alguns dos acordos na área da negociação em relação ao reescalonamento da dívida são igualmente importantes para desafogar a situação financeira angolana. O ministro entende que a forte afluência de empresários chineses ao Fórum de Negócios China-Angola, em particular os de grande capacidade financeira, é um sinal importante para a nova etapa da cooperação sino-angolana, particularmente naquilo que são os grandes objectivos do Governo angolano.
Para o ministro das Relações Exteriores, a visita do Presidente José Eduardo dos Santos à China tem uma particular relevância no que diz respeito à parceria estratégica entre os dois países, já que permitiu, como referiu, “redefinir alguns aspectos da cooperação bilateral e criar um órgão que doravante vai encarregar-se de coordenar essa parceria”.
Com o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, por Angola, e o ministro da Reforma Institucional, pela parte chinesa, a comissão deve coordenar todas as acções, em termos de projectos  de investimentos a serem realizados em Angola. “Encontrámos dessa forma uma melhor maneira de gerir o investimento chinês em Angola e as coisas passam a ser coordenadas por duas entidades dos dois países”, salientou.
Em relação à dívida angolana à China, com particular relevo para a moratória solicitada pelo Governo angolano, Chikoti disse que é uma questão que continua a ser discutida a nível dos ministros das Finanças. “Os ministros das Finanças vão continuar a trabalhar nos detalhes, na relação de Governo para Governo, e nos projectos que vão ser financiados pela parte chinesa”, afirmou.
Para o ministro das Relações Exteriores, o pragmatismo e a abertura das negociações permitiram abrir espaço para uma cooperação contínua e coordenada, que vai permitir aperfeiçoar mecanismos da cooperação bilateral já existentes e criar novos em função das necessidades detectadas.
Chikoti deu como exemplo o acordo de circulação monetária que continua a ser discutido, de modo a assegurar a entrada de um novo mecanismo para facilitar as transacções, principalmente entre homens de negócios. Durante a visita, o Presidente da República teve encontros com o seu homólogo, Xi Jinping, o Primeiro-Ministro, Li Keqiang, e com Yu Zhengsheng, líder do Parlamento chinês.
O Chefe de Estado angolano também manteve um encontro com as autoridades da cidade de Tianjin, uma das quatro cidades-município e um dos maiores pólos de desenvolvimento económico e tecnológico da China, abrindo perspectivas para uma cooperação mais estreita a nível dos governos provinciais, em matéria de planificação e gestão urbanística.
Segundo o ministro Georges Chikoti, fruto da deslocação do Presidente da República a Tianjin, deve realizar-se em breve uma visita de trabalho da ministra da Ciência e Tecnologia para contactos com as autoridades locais.

A vez dos privados

A empresária Isabel dos Santos fez uma avaliação positiva do Fórum Económico Angola-China, por criar uma oportunidade de interacção e partilha de experiências entre empresários dos dois países, numa altura em que, no plano político-económico, foi inaugurada uma nova era da cooperação bilateral.
“Esse intercâmbio é fundamental, porque o sector empresarial angolano tem crescido muito nos últimos anos. Temos um mercado interno forte, o que nos permite ser competitivos também na região, e a China vê e reconhece isso”, destacou a empresária.
Isabel dos Santos defendeu a criação de parcerias entre chineses e angolanos, num espírito de complementaridade e alinhamento de propósitos de investimento, assinalando ainda que os empresários e empresas chinesas vêem Angola como porta de acesso para a África subsariana e em particular a região da SADC.
“É muito difícil hoje em dia que alguém vá para um país novo e não tenha um parceiro local, que tenha conhecimentos mais profundos do mercado, do meio ambiente, das leis, e muitas vezes o parceiro que vem de fora tem outras competências, como financiamento e know-how”, assinalou a empresária que vê nessa abordagem a oportunidade para o surgimento de “produtos competitivos a bons preços”.
Isabel dos Santos chamou a atenção para o facto de ser praticamente uma regra as empresas chinesas em Angola trabalharem muito com o Estado, focadas principalmente em obras de infra-estruturas. Na opinião da empresária, uma das notas de destaque do Fórum Económico Angola-China foi perceber “um maior interesse para as áreas da agricultura e indústria”, o que reflecte uma reviravolta na forma de olhar o mercado angolano por parte dos empresários chineses.

Experiências proveitosas

Uma das presenças em grande destaque no Fórum Económico Angola-China foi a do multimilionário chinês Zong Qing Hou, que disse ter gostado de ouvir das autoridades angolanas e de empresários chineses que já operam em Angola pormenores sobre o ambiente de negócios no país.
O patrão do grupo Hanzhou Wahaha, um conglomerado de indústrias espalhadas por toda a China, também notou que houve um número pouco significativo de empresários privados a desenvolver negócios entre privados. Zong Qing Hou disse já ter estado em Angola e que está interessado em apostar nesse mercado.
Hou adiantou que fez “bons contactos em Angola” e está a trabalhar na organização de uma missão empresarial com interesses em vários ramos de negócio.

Foco na agro-indústria

Para o empresário Alberto Jaime Calabeto, as relações entre Angola e a China seguem para uma nova etapa no que toca a investimentos, quer a nível público, quer a nível público-privado. Na opinião do empresário, o Fórum Económico deu aos participantes uma visão mais clara sobre como e onde investir, assim como permitiu aos empresários chineses identificar formas de obter parcerias em Angola.
O empresário defendeu a ideia de complementaridade de objectivos entre homens de negócios chineses e angolanos e destacou o facto de Angola estar hoje a trabalhar para criar uma “plataforma segura para desenvolver as áreas potenciais”.
Segundo o empresário, o país está no caminho certo e no quadro da cooperação com a China foram tomadas medidas no plano do desenvolvimento da produção alimentar e da agro-indústria, que vão permitir que Angola muito rapidamente atinja a auto-suficiência alimentar e mais tarde comece a pensar na exportação.
“É importante que se estabeleçam prioridades para a produção interna de modo a que Angola abandone a situação de dependência e consiga utilizar os seus recursos da importação de alimentos para outras linhas mais importantes, principalmente do sector social”, defendeu.
Eduardo Castro, outro empresário angolano ligado ao sector da agro-indústria, disse ter aprendido muito com os momentos que partilhou com outros colegas angolanos e chineses. “Foi uma boa oportunidade de interacção e deu para perceber que, tal como nós, os empresários chineses estão entusiasmados e motivados a investir em Angola”, afirmou.

FacebookTwitterGoogle+