Forte parceria com a China

Fotografia: Francisco Bernardo

Fotografia: Francisco Bernardo

Os Presidentes da China e de Angola reuniram-se ontem em Joanesburgo, à margem da cimeira do segundo Fórum China-África, que decorre na capital económica da África do Sul.

No seu segundo encontro este ano – o anterior foi em Junho, em Pequim – Xi Jinping e José Eduardo dos Santos analisaram a agenda da cooperação bilateral e trocaram impressões sobre a conjuntura global.
No encontro, os dois líderes reafirmaram a necessidade de se continuar a fortalecer a parceria estratégica entre os dois países, com Angola a assumir-se cada vez mais como um parceiro importante da China em África, e o gigante asiático, por sua vez, uma aposta de confiança para as economias emergentes.
O Presidente José Eduardo dos Santos voltou a agradecer a Xi Jinping pela “recepção calorosa” que teve aquando da sua visita à China e por ter enviado a Luanda uma importante delegação durante a celebração do 40º aniversário da Independência Nacional.
O líder chinês realçou o significado e alcance histórico das celebrações do 11 de Novembro para o povo angolano e destacou a “excelência das relações entre os dois países”. Xi Jinping expressou a sua convicção de que o líder angolano e o MPLA, partido no poder em Angola, são a garantia de êxito dos projectos e programas em prol do bem-estar e progresso de um país que sobreviveu a um dos conflitos mais longos e destrutivos da história e soube conquistar a paz e a estabilidade.
O encontro entre Xi Jinping e José Eduardo dos Santos serviu ainda para analisar a situação política global, com as mudanças climáticas, o tráfico de seres humanos e o combate ao terrorismo internacional em grande destaque. Os dois líderes falaram sobre os desafios do continente africano e a busca de soluções para os focos de conflitos, especialmente na região dos Grandes Lagos.
Angola preside à Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGIL) e tem sido incentivada por vários países, incluindo os EUA, a manter-se à frente da organização sub-regional criada em 1994 sob iniciativa das Nações Unidas, com o objectivo de diligenciar as questões de paz, de segurança e humanitárias, através de mecanismos regionais para o benefício das populações deste pedaço do continente.

Reunião Ministerial

Ontem, em Pretória, capital executiva da África do Sul, o Fórum de Cooperação África-China registou um dos seus momentos mais importantes e também decisivos, com a realização da reunião ministerial, onde foram apresentados os documentos a serem submetidos à cimeira de Chefes de Estado e de Governo.
Em declarações à imprensa, à saída da reunião, o ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, destacou o pragmatismo com que as partes falaram sobre os últimos 15 anos da cooperação China-África e o lançamento das bases para o futuro.
“Foi possível abordarmos as especificidades de cada região e de cada país e sem grandes dificuldades aprovámos os documentos para a cimeira dos Chefes de Estado”, disse Georges Chikoti. O ministro falou sobre o conteúdo da declaração de Joanesburgo, sublinhando o seu aspecto orientador. “A declaração traça os princípios políticos essenciais que sustentam a cooperação”, disse o ministro, lembrando Bandung, a histórica conferência que 60 anos depois continua a ser a fonte de inspiração para a cooperação Sul-Sul.
Além da forte componente histórica, Georges Chikoti destacou os números da cooperação China-África. Para o ministro das Relações Exteriores, é significativo o facto de a cooperação Sul-Sul China-África ter atingido 35 mil milhões de dólares, neste mandato, quando inicialmente estavam previstos 20 mil milhões.
A balança comercial foi outro dos indicadores apontados pelo ministro, para quem diz muito o facto de as trocas comerciais terem ultrapassado os 200 mil milhões de dólares. Quanto ao plano de acção, o outro dos documentos hoje em cima da mesa dos Chefes de Estado e de Governo de África e da China, Georges Chikoti falou das acções e programas a desenvolver, e realçou o facto de haver financiamento garantido para cada uma das iniciativas até ao próximo FOCAC, que deve ter lugar dentro de dois anos, na China.

FOCAC e Agenda Africana

Na abertura da sessão ministerial, a anfitriã, Maite Nkoana-Mashabane, fez um discurso muito aplaudido, no qual, além de apresentar África como um espaço de oportunidades, destacou a abertura da China em manter e aprofundar a cooperação em condições únicas, numa perspectiva de igualdade e respeito mútuo.
Ladeada pelo seu homólogo chinês, Wang Yi, a ministra das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul disse estar confiante em como as conclusões do FOCAC ao mais alto nível vão vincar quer o 15º aniversário desta plataforma estratégica de desenvolvimento, quer o facto de realizar-se pela primeira vez em solo africano.
O tema da cimeira deste ano – “China-África Caminhando Juntos: vantagens recíprocas para o desenvolvimento comum” – aponta para os princípios da igualdade, para o reforço da cooperação Sul-Sul e para a consolidação da agenda africana.
A ministra sul-africana realçou o facto de a Cimeira China-África realizar-se num momento em que a ONU fecha as contas em relação às realizações no âmbito dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e adoptou a Agenda 2030, com o objectivo primordial de criar uma vida melhor para todos. Maite destacou a adopção de 17 metas de desenvolvimento sustentável, que, segundo disse, está associada à Agenda da União Africana “África 2063”, alicerçada no propósito de colocar o continente numa trajectória de desenvolvimento.
A ministra sul-africana lembrou que, de acordo com a Agenda África 2063, todos os esforços estão a ser direccionados para que, dentro dos próximos dez anos, seja melhorada a conectividade ferroviária, a infra-estrutura rodoviária, portos marítimos e aeroportos. A Agenda prevê ainda a aposta nas TIC, associada a uma economia digital forte, e ainda o desenvolvimento da agricultura e da agro-indústria.
“É nossa convicção que a Parceria FOCAC tem o potencial para ajudar a alcançar quer as metas de desenvolvimento sustentável definidas pela ONU, quer a Agenda 2063”, frisou Nkoana-Mashabane.

Fundo milionário

Às portas da Cimeira de Joanesburgo, os Governos africanos receberam com satisfação o anúncio feito recentemente pelo Fundo de Desenvolvimento China-África (FDCA) da realização da terceira fase de aumento do capital de dois mil milhões de dólares sob a aprovação do Conselho de Estado, alcançando os cinco mil milhões. A terceira fase de aumento de capital, coincidente com a véspera da Cimeira de Joanesburgo, reflecte o importante papel do investimento na cooperação sino-africana, marcando uma nova época de rápido desenvolvimento do FDCA, plataforma chinesa de financiamento e investimento em África.
O FDCA é um produto do Fórum de Cooperação China-África, organizado pelo Banco de Desenvolvimento da China, com o objectivo de ajudar as empresas chinesas a investir no continente do hemisfério sul. Até agora, o FDCA esteve envolvido no investimento de mais de 80 projectos em 35 países africanos, totalizando um valor de quase 3,2 mil milhões de dólares, em áreas como infra-estrutura, equipamentos de produção, meios de subsistência agrícola, desenvolvimento de recursos energéticos, entre outros.
Os projectos para o futuro visam a canalização de um investimento de 16 mil milhões de dólares por parte de empresas chinesas em África, impulsionar o aumento de emprego africano em um milhão de postos de trabalho, aumentar as exportações locais em dois mil milhões de dólares e reforçar o sistema de tributação em um mil milhão de dólares.

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