Quénia retira candidatura e Angola continua à frente

Fotografia: Francisco Bernardo

Fotografia: Francisco Bernardo

Angola deve ser reconduzida na presidência da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL) por mais dois anos, com a retirada da candidatura do Quénia, anunciou ontem à Rádio Nacional o director para África e Médio Oriente do Ministério das Relações Exteriores.

Joaquim do Espírito Santo explicou que o Quénia, que assumia a presidência rotativa a partir deste mês, acabou por retirar a candidatura, favorecendo a continuidade de Angola na liderança da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos. A maioria dos países da região, disse, têm manifestado  interesse na continuidade de Angola no cargo.
Joaquim do Espírito Santo considera que a recondução angolana traduz o reconhecimento pela forma como o país tem conduzido os destinos da organização, formada por Angola, Burundi, Congo, Quénia, República Centro Africana, República Democrática do Congo, Ruanda, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia, Uganda e Zâmbia.
Na semana passada o ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, anunciou para Fevereiro a realização, em Luanda, da  Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, que deve  analisar o mandato de Angola e debater a sua continuidade na direcção da organização.
Georges Chikoti disse que o fórum vai tratar   de questões ligadas aos conflitos que afectam a região, nomeadamente o Sudão do Sul, Burundi, República Centro Africana e República Democrática do Congo, e eleger o novo secretário-executivo e respectivo adjunto.
O mandato de Angola termina em Janeiro e tem havido contactos no sentido de haver uma extensão do mesmo. Em Novembro último, Chikoti recebeu no seu gabinete Hon Joseph Nyaga, que foi portador de uma mensagem do Presidente queniano para o homólogo angolano. A mensagem foi entregue ao Chefe do Estado angolano, durante uma audiência no Palácio da Cidade Alta. O emissário do Presidente Uhuru Kenyatta disse que o Quénia pretende o apoio de Angola para eleger o seu candidato à sucessão do congolês Louaba Ntumba no cargo de secretário executivo da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos.
Em Janeiro de 2014, Angola acolheu a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos  e foi eleita para um mandato de dois anos.
Quando assumiu a presidência da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos, Angola encontrou desafios vários, que consistiam, na sua maioria, em restaurar o clima de paz na região. Como é sabido, a República Democrática do Congo (RDC) vivia um complexo conflito com a presença de vários grupos rebeldes, entre os quais se destacavam as milícias M23 que causavam distúrbios no Leste daquele país, mais concretamente na região do Kivu, com o agravamento da situação muito próximo de atingir níveis difíceis de controlar.
Outro assunto muito complicado que Angola encontrou quando assumiu a presidência da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos foi o golpe de Estado na República Centro Africana (RCA). A 24 de Março de 2013 as milícias Seleka, lideradas por Michel Djotodia, puseram fim aos acordos de paz assinados em 2007 com o Governo do Presidente François Bozizé. Depois de conquistarem as cidades estratégicas de Damara e Bossangola, conseguiram conquistar a capital da República Centro Africana , Bangui, e o país mergulhou na incerteza com pilhagens e assassinatos e distúrbios por todo o território.
Situação difícil que Angola encontrou foi também a situação política entre o Sudão e o Sudão do Sul, marcada pelo impasse na resolução de questões locais. Para além destas questões e outras, registava-se também um clima de incerteza muito grande na própria Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos. Os relatórios internacionais apontavam para uma situação em que alguns países vizinhos não estavam a fazer tudo para terminarem com conflitos em que podiam ter um papel mais activo.
Com a experiência que tem na resolução de conflitos – aplicando a fórmula de partir do local para se chegar ao regional – o Presidente José Eduardo dos Santos, enquanto presidente em exercício da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos, imprimiu uma dinâmica diferente na organização, convocando cimeiras e mini-cimeiras, onde todos os assuntos eram analisados minuciosamente, para que se encontrassem soluções concretas para os problemas que se viviam nas várias sub-regiões instáveis dos Grandes Lagos africanos.
Para além destes encontros, geralmente realizados em Luanda, Angola levou o debate sobre a procura da paz na região dos Grandes Lagos para a União Africana e outros fóruns internacionais, como a Cimeira entre a União Europeia e África, realizada em Abril de 2014 em Bruxelas.
A questão da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos vai centrar a acção de Angola em Março, quando presidir o Conselho de Segurança das Nações Unidas. O país vai  promover uma agenda internacional de prevenção e resolução de conflitos no mundo, valendo-se da sua experiência nacional e da liderança do Chefe de Estado angolano, particularmente no actual contexto em que preside à Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos.
A assumpção da presidência do Conselho de Segurança é o ponto mais alto de qualquer Estado membro deste importante órgão das Nações Unidos responsável por zelar pela paz e a segurança internacional, requerendo grande responsabilidade e esforços redobrados do país.

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