Comboio comercial à velocidade da paz

Fotografia: Domingos Mucuta | Edições Novembro

Fotografia: Domingos Mucuta | Edições Novembro

O comboio comercial já chegou a Tchamutete, município da Jamba, numa viagem tranquila. A locomotiva de passageiros andou sobre os carris do ramal ferroviário Jamba-Tchamute, reabilitado no âmbito do programa de reconstrução dos Caminhos de Ferro de Angola.

A composição de nove carruagens de fabrico americano circulou numa velocidade ao ritmo da paz. No interior, foram transportados passageiros em segurança e conforto, o governador da Huíla, João Marcelino Tyipinge, prestigiou circulação do comboio comercial.
O presidente de Conselho de Administração dos Caminhos-de-Ferro de Moçâmedes (CFM), Daniel Kipaxe, e outros membros da administração, do Governo Provincial da Huíla e da Administração Municipal da Jamba e a população assistiram a cerimónia iniciada no entroncamento do Dongo.
Ao longo da via, vários populares concentraram-se nas imediações das estações de Carvalhais, Tuntunhé, Tchakaia e de outras localidades para comemorar a chegada do comboio dos Caminhos-de-Ferro de Moçâmedes. O percurso de 94 quilómetros foi percorrido em cerca uma hora.
A viagem inaugural até a estação de Tchamutete, onde a comitiva governamental encontrou um aglomerado de cidadãos eufóricos, durou cerca de uma hora, num percurso de 94 quilómetros.
A recepção foi calorosa. Houve alegria suficiente para cânticos típicos da região, entoados na língua nacional umbundo.
A dança fez parte do momento histórico. Afinal, a circulação do comboio de passageiros e mercadoria no município da Jamba mineira até a comuna de Tchamutete acontece 35 anos depois da sua paralisação em 1982.
Depois de Tchamutete, o comboio foi à sede municipal da Jamba. O acesso é feito a partir da estação de Carvalhais, num percurso de 16 quilómetros, a partir do entroncamento principal do Dongo. A locomotiva escalou a Jamba e recebeu vários  cidadãos que criaram um ambiente de festa com direito à actuação de músicos locais.

Frequências semanais 

O comboio, que circula no ramal Jamba-Tchamutete, é, tecnicamente, denominada pelos Caminhos de Ferros de Moçâmedes como “comboio de enlace”, por trazer os passageiros da Jamba e Tchamutete para Menongue e Lubango. A administração do CFM definiu duas frequências semanais. Às segundas e sextas-feiras, o comboio circula  nos dois sentidos.
Esta agenda pode ser mudada com o aumento de mais comboios, à medida que o fluxo de passageiros e comerciantes manifestarem interesse em viajar ou transportar os seus produtos.
“Vamos realizar duas viagens por semana. Depois disso, vamos decidir se aumentamos ou mantemos o programa. Estamos em crer que, pelo entusiasmo manifestado pelas populações, poderemos ter mais comboios a circular neste troço.
O maior desafio de lançar o comboio neste via está cumprido para prestar serviço ao povo. A população da Jamba precisa de comboio”, referiu.
A tarifa entre o entroncamento do  Dongo e a Jamba, numa distância de 16 quilómetros, está fixada em 100 kwanzas. Do mesmo ponto até Tchamutete, cerca de 94 quilómetros custa  300 contra os mais de 1.000 kwanzas cobrados pelos automobilistas, que prestam serviço de táxi,  devido ao mau estado das estradas.
A empresa está pronta para em breve dar início ao transporte de mercadorias contentorizadas, sobretudo os equipamentos e máquinas a utilizar no processo de exploração de minérios nos municípios da Jamba e, numa fase posterior, no transporte de ferro gusa a partir da Jamba mineira (Huíla) e do Cuchi (Cuando Cubango).
A empresa ainda não gera lucros porque o transporte de mercadorias pelas médias e grandes empresas está abaixo dos níveis desejados. Daniel Kipaxi acredita que, depois do início da exploração de ferros, os Caminhos-de-Ferro de Moçâmedes podem gerar mais rendimentos e contribuirém para o retorno dosinvestimentos realizados pelo Executivo.
Dados da empresa, a que o Jornal de Angola teve acesso, apontam para o transporte mensal de, pelos menos, 30 mil passageiros no percurso Lubango-Menongue e uma factura média de cerca de 50 milhões de kwanzas.
O preço cobrado por passageiro, neste momento, é módico para ajudar a população. As tarifas estão de acordo com as tabelas de preços definidas pelo Ministério das Finanças. O comboio é um dos meios de transporte com capacidade de reduzir os custos das empresas no transporte de mercadorias.
Daniel Kipaxe confirmou a vandalização de uma locomotiva na estação da Mapunda, arredores do Lubango, onde os marginais quebraram todos os vidros, cujo prejuízo está avaliado em 100 mil dólares. “Temos uma locomotiva parada, porque foi vandalizada e estamos a arcar com os custos, a aquisição de meios para a reposição dos danos, sobretudo nos vidros”, lamentou.
O arranque do projecto de exploração de ferro e ouro vai criar mais oportunidades de emprego para os jovens. “A Jamba é  um município abençoado. Além do potencial  agrícola, há aqui muita riqueza que vai ser transportada de comboio”, disse.

Facilitar o transporte a baixo custo

O administrador comunal de Tchamutete, Mariano Tyamba, manifestou satisfação com a chegada de comboio e considerou que a circulação do comboio no ramal facilita o transporte de pessoas e mercadorias a baixo custo.
Está  é uma prova do desenvolvimento económico e social do país. É momento de alegria e orgulho para a população que vê os seus grandes problemas resolvidos com a chegada deste meio de transporte, como disse Mariano Tyamba.
“Agradecemos pelo esforço aos anseios do povo da Jamba mineira. Hoje, é real. O transporte mais seguro, eficaz, económico e rentável chegou a nossa comuna”, disse.
O governador da Huíla, João  Marcelino Tyipinge, disse que a chegada do comboio à comuna é a concretização da promessa feita pelo Executivo à população da localidade, o que justifica que o povo de Tchamutete também merece viajar de forma cómoda, segura e a baixo preço.
Pelas suas potencialidades mineiras a Jamba que, nos próximos tempos, começa a explorar ferro e ouro, segundo João Tyipinge vai precisar do comboio para transportar o ferro e o ouro até ao Porto do Namibe para a sua exportação.

Ligação com a Namíbia

A ligação dos Caminhos-de-Férreo de Moçâmedes com as linhas férreas da Namíbia, através do ramal Jamba-Tchamutete, foi defendida pelo administrador município da Jamba, Miguel Cassela.
A ideia que consta do projecto de interligação dos Caminhos-de-Ferro de Angola com os de Países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral é um dos actuais desafios do Ministério dos Transportes.
O administrador pediu que o Governo Provincial da Huíla continue a interagir no sentido de materializar o projecto de ligação dos Caminhos-de-Ferro de Moçamedes ao da Namíbia, aproveitando a proximidade do ramal de Tchamutete com o país vizinho.
A importância estratégica da circulação do comboio no ramal impulsiona o transporte de pessoas e bens e o apoio à diversificação da economia em todos os sectores com destaque para a agropecuária, geologia e minas e turismo.
O lançamento do comboio é um acto sublime do Executivo, que quer ver a assegurada a circulação de pessoas e bens em todo o país, em particular no município. A Jamba dista 315 quilómetros do Lubango e tem uma população 105.090 habitantes.
A autoridade administrativa da Jamba pediu que se coloque na lista de prioridade a recuperação da estrada nacional 120. O troço Cuvelai-Kuvango é importante para o reforço das transacções comerciais entre Angola e a Namíbia, sobretudo na perspectiva da construção do memorial em homenagem às vítimas do massacre de Cassinga.

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