Angola dá ajuda à RCA
Angola vai conceder apoio financeiro para garantir o funcionamento do Governo de transição da República Centro Africana, à luz de um acordo bilateral rubricado ontem, último dia da visita oficial da Presidente interina da RCA, Catherine Samba-Panza, a Angola.
O acordo assinado pelos chefes das diplomacias dos dois países, Georges Chikoti e Gaston Makouzangba, na presença dos respectivos Chefes de Estado, também vai permitir atenuar a grave crise humanitária que afecta milhares de famílias naquele país, desde Dezembro, após o golpe militar que derrubou o Presidente François Bozizé.
Com a criação de um governo de transição, em Janeiro, com Catherine Samba-Panza à testa, a RCA tem a oportunidade de corrigir a sua trajectória como país, depois de mais de duas décadas de instabilidade política cíclica e degradante situação humanitária. “Temos muitas necessidades, por isso conto muito mais com o apoio dos meus irmãos africanos, em particular o Presidente José Eduardo dos Santos que tem dedicado uma atenção especial à actual situação que o meu país atravessa”, disse a presidente de transição da RCA, durante a conferência de imprensa que serviu para o balanço da visita de 48 horas a Angola.
Uma honra
A RCA e Angola são membros da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEAC) e da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), referiu Catherine Samba Panza, que se diz “muito honrada” com o facto de o seu país ter a atenção dos membros dessas duas organizações regionais.
Tivemos a sorte, disse, de chamar a atenção da comunidade internacional a tempo, para o que se estava a passar na República Centro Africana. Em função disso, referiu, tivemos muitas manifestações de solidariedade e de apoio no domínio da segurança, humanitário e também social.
O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que assumiu em Janeiro a liderança da CIRGL, manifestou a disponibilidade de Angola para prestar apoio humanitário à RCA e ajudar nos esforços internos para uma solução política para a crise que se instalou após o abandono de poder por parte do líder das Séléká, Michel Djotodia.
Consulta política
Em Angola a convite do Presidente José Eduardo dos Santos, Samba-Panza pode passar em revista com o seu homólogo angolano vários aspectos da cooperação bilateral e da actual conjuntura africana. “Fizemos um roteiro das questões ligadas à cooperação em todos os domínios, particularmente no domínio da segurança, humanitário e também de apoio militar”, disse.
Os dois assistiram à assinatura de três instrumentos jurídicos, designadamente, um memorando de entendimento, um protocolo sobre o programa indicativo de cooperação e um outro de apoio financeiro, por via do qual Angola doa cerca de 10 milhões de dólares para a RCA. “Os acordos assinados vão reforçar a cooperação entre os dois países irmãos e também apoiar o Governo que estou a dirigir para que possa fazer melhor o seu trabalho”, disse a Presidente interina da RCA. Catherine Samba-Panza considerou preocupante a situação da segurança no seu país, marcado por “violações massivas de direitos humanos, situação humanitária muito precária”.
Muita coisa para fazer
A Presidente de transição da RCA disse que há um longo caminho a percorrer, embora tenha havido já alguma evolução.
“É impossível resolver num mês problemas que o país acarreta há 20 anos. Ainda existem focos de violência, mas de uma forma geral a situação está a ser controlada”, avaliou Catherine Samba-Panza, que admite que sem o apoio da comunidade internacional a RCA estaria numa situação caótica.
“Não temos de facto situações de genocídios, mas a situação da população é preocupante, por isso estamos a lutar para levar a segurança a todas as populações da RCA, independentemente da sua religião”, defendeu.
Boa impressão
Durante a sua estada na capital angolana, a Presidente interina da RCA visitou a cidade do Kilamba, 30 quilómetros a sul de Luanda. Catherine Samba Panza foi constatar a realidade que é a Centralidade do Kilamba, hoje com cerca de 40 mil habitantes.
O maior projecto imobiliário em Angola, cuja primeira fase foi concluída em Dezembro de 2012, comporta 700 prédios, 24 jardins-de-infância e 17 escolas primárias e secundárias com capacidade para albergar 1.200 alunos por turno. O projecto dispõe de subestações eléctricas, uma estação de tratamento de água com captação a partir do rio Kwanza, 20 quilómetros a sul.
A Presidente interina da RCA também visitou o pavilhão multiusos do Kilamba, que foi palco das cerimónias de abertura e encerramento do 41º Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins. O multiusos do Kilamba é um dos três pavilhões construídos para o Mundial de Hóquei em Patins, em que saiu vitoriosa a selecção da Espanha.
O mesmo pavilhão pode acolher em 2015 a fase final dos Campeonatos Africanos das Nações de basquetebol em seniores (Afrobasket), nas duas classes, provas selectivas para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.