Batalha do Cuito Cuanavale, 32 anos depois
22 Março de 2020 | 17h53 – Actualizado em 22 Março de 2020 | 17h47
O fim do regime de segregação racial que vigorava na África do Sul, a libertação de Nelson Mandela e a consequente independência da Namíbia constituem os principais ganhos da batalha do Cuito Cuanavale que assinala nesta segunda-feira o seu 32º aniversário.
A Batalha do Cuito Cuanavale, ocorrida entre 15 de Novembro de 1987 a 23 de Março de 1988, é considerada por políticos e historiadores o inicio de uma viragem a favor da paz e da libertação da África Austral.
Volvidas três décadas, e numa demonstração da sua valorização e honra, à memória de todos aqueles que lutaram na Batalha do Cuito Cuanavale, a data é celebrada pela segunda vez como feriado nacional em Angola e concomitantemente na região da África Austral pelos países que fazem parte da SADC.
Considerado até hoje um dos maiores confrontos militares da guerra pós independência angolana, foi a batalha mais prolongada no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial.
Ambos lados do conflito (Angola/África do Sul) reivindicaram vitória, mas quem saiu a ganhar com todos estes feitos são os africanos outrora oprimidos.
Para alguns analistas, os factos históricos não devem ser negados, porque servem para reflectir sobre os erros do passado, para que não se voltem a cometer no presente.
Não se pode ter dúvida que o 23 de Março mudou a geografia política da região da África Austral, não fosse essa batalha, de certeza que os sul-africanos não teriam dado a independência à Namíbia.
Guerra e história
O local da batalha foi o sul de Angola, na região do Cuíto Cuanavale, província do Cuando-Cubango, onde se confrontaram os exércitos de Angola (FAPLA) e Cuba (FAR) contra a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e o exército da maior potência militar regional, a África do Sul.
O dia 23 de Março de 1988 marca o fim da Batalha do Cuito Cuanavale, tornando-se na viragem da guerra que se arrastava há anos, incentivando um acordo entre sul- africanos e cubanos para a retirada de tropas.
A assinatura dos Acordos de Nova Iorque deu origem à implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU, levando a retirada das forças cubanas de Angola, a libertação de Nelson Mandela e a independência da Namíbia.
No teatro das operações
Transformada num “autêntico inferno”, na vila do Cuíto Cuanavale, as áreas residenciais e as posições das FAPLA eram fustigadas intensamente com artilharia de longo alcance G-5 e G-6 (uma peça de artilharia que tem uma cadência de tiro de três minutos), bem como aviões teleguiados carregados com toneladas de explosivos.
As forças sul-africanas tinham também, a seu favor, um Centro de Correcção de Fogo (CCF), a partir do qual podiam acompanhar facilmente, com ajuda de satélite, toda a movimentação da população e das unidades das tropas governamentais. As FAPLA respondiam como podiam.
A defesa das FAPLA residia na artilharia anti-aérea, com destaque para os lançadores de mísseis inteligentes Osaka e CD-10, e artilharia terrestre, com o lança foguetes múltiplos BM-21 (órgãos de Staline), os canhões C-130 milímetros e o D-30 mm.
Em aviação detinham os caças-bombardeiros Sukoy-22 e 25, assim como o Mig-23 (com a entrada em cena deste caça, a Força Aérea sul-africana perdeu a supremacia nos céus do sul de Angola).
Memorial homenageia heróis
Para honrar a memória de todos aqueles que lutaram na Batalha do Cuito Cuanavale, o Governo angolano construiu, numa área de 3,5 hectares, um conjunto escultórico visando “ eternizar” o sacrifício dos milhares de angolanos que lutaram contra as tropas do regime do apartheid.
O imponente edifício com cerca de 35 metros de altura sob forma de pirâmide (alusão explicita ao Triângulo do Tumpo, local da derradeira batalha) erguido numa área total de 3,5 hectares, à entrada da sede do município do Cuito Cuanavale, simboliza a memória e a bravura dos heróis da batalha de 1988.
A infra-estrutura comporta dois pisos, um terraço e sustentada por três vigas de betão armado. Está equipada com um elevador com capacidade para transportar cinco pessoas.
Logo à entrada do pátio do monumento histórico, encontram-se duas estátuas de soldados, sendo um das ex-Fapla e outro cubano, com os punhos erguidos em sinal de vitória.
No mesmo perímetro, encontra-se uma biblioteca e um museu, neste último encontram-se armas capturadas durante os combates e o material utilizado pelas extintas Fapla e pelas tropas cubanas.