Semba pode ser elevado a Património Imaterial
O Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente pretende elevar, ainda este ano, o estilo musical Semba a Património Imaterial Nacional.
Segundo avançou a directora do Instituto Nacional do Património Cultural, Cecília Gourgel, tudo está apenas pendente do término de um processo criterioso a ser levado a cabo pelo ministério de tutela.
Cecília Gourgel garante que o seu departamento ministerial está engajado em entregar o dossier à apreciação derradeira. Porém, pondera que, no caso de haver mais questões a serem reavaliadas, a elevação poderá ser adiada para uma data oportuna a ser indicada.
“Como habitualmente o Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente declara os bens na lista a Património Nacional na data de 18 de Abril, Dia Mundial dos Monumentos e Sítios, vamos ver se até aí conseguimos ter o consenso e a consequente homologação do documento pelo ministro da Cultura Turismo e Ambiente, Filipe Zau. Se não conseguirmos, vamos fazer mais actividades e o que for necessário para que, se não declararmos até ao final do ano, podermos então declarar no próximo ano”, disse Cecília Gourgel.
Cecília Gourgel prestou estas declarações à imprensa, à margem de um fórum sobre o semba, realizado na passada quarta-feira, no Museu de História Natural, e cuja tónica foi a apresentação e propostas de enquadramento de temas musicais de semba sujeito a pautas musicais, visando a padronização deste estilo musical. Mais um avanço proveitoso na bagagem que congrega, entre depoimentos e documentação, Cecília Gourgel considerou ter havido ali um debate rico, tendo igualmente apelada que a anuência para a promulgação do semba a Património Nacional pelas entidades competentes é assunto que resulta da combinação de ideias e uma participação que envolve não apenas os artistas, bem como o engajamento da União Nacional dos Artistas e Compositores e demais intervenientes chamados ao debate, dentre estes a classe jornalística.
Já Manuel Gonçalves, director do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos de Luanda, considerou ser urgente encontrar caminhos que levem o semba a Património Cultural Imaterial de Angola, tarefa que imputa a Luanda uma grande responsabilidade em procurar incentivar e massificar os passos de todo o processo.
“Independentemente das divergências e diferenças nas reflexões ao se abordar o assunto, é importante sermos nós mesmos, visando o princípio de que é preciso classificar com aquilo que é possível fazer. Portanto, os estudos posteriores poderão enriquecer ainda maistodo o trabalho”, disse.
Espírito de unidade nacional
Dom Caetano foi uma das figuras presentes no fórum sobre o semba. Para o músico, é importante que estas discussões aconteçam atempadamente, para que se consiga elevar o semba a Património Imaterial Nacional. Quanto a entraves, apontou o facto de o país possuir uma cultura muito rica em ritmos, bem como a não padronização do semba.
“Estivemos perante um estudo feito por um maestro e, entretanto, o que temos de fazer, somos nós também a estudar estas matérias, e num próximo encontro virmos mais lúcidos com relação àquilo que queremos, que é padronizar o semba”, disse.
Segundo sustenta o músico, nos últimos setenta anos, o semba foi cantando nas diversas partes do país, razão que o leva a avaliar que não se pode ter dificuldades em aceitar aquilo que é absorvido por todos, e sugere que muito rapidamente a sociedade deve chamar as autoridades do colégio cultural nacional e dizer que os músicos em mais de noventa por cento estão de acordo que o semba deve ser Património Nacional e indicado para a lista do Património Mundial.
“Para sairmos dessa discussão que já dura há mais de cinco anos. Para mim, é uma questão de compreendermos os fenómenos. Esse ano tem de ir a património nacional. Se não for, eu não sei se é muita casmurrice dos artistas ou da imprensa. Há um certo emperramento na compreensão dentro da classe artística nacional, mas não podemos impedir a vida da cultura nacional”, critica Dom Caetano.
Igualmente presente no fórum, o músico Carlos Lamartine considerou que o encontro foi rico e demonstrou como a música nacional precisa de um investimento sério para uma pesquisa contínua e sustentável que ajude a dar o devido respeito à criatividade dos artistas de todo o país.
“A minha concepção não é que Angola seja unicamente de semba. Mas, independentemente da diversidade cultural, o semba simboliza o espírito de unidade nacional”, sustentou.