Agostinho Neto nasceu há 100 anos – Biografia
A 17 de Setembro de 2022 completam-se 100 anos desde o nascimento do fundador da Nação e 1º Presidente de Angola (1975-1979), António Agostinho Neto.
Para festejar o centenário do também médico, político, poeta e presidente do MPLA (1962-1979), o Executivo angolano programou várias manifestações políticas e culturais, com destaque para um culto ecuménico, dia 17 de Setembro, e um acto solene de condecorações.
Eis a biografia de Agostinho Neto
1922
Nasce, às cinco horas de 17 de Setembro, na aldeia de Kaxicane, freguesia de S. José, concelho de Icolo e Bengo, no distrito de Luanda, sendo filho do pastor evangelista Agostinho Pedro Neto e da professora primária Maria da Silva Neto.
1930
Acompanha os pais na mudança de residência para Luanda.
1933
Termina a instrução primária, que lhe foi ministrada pelos pais, tendo sido aprovado com distinção.
1934
Matricula-se, em 14 de Fevereiro, no Liceu Salvador Correia (hoje denominado Magistério Mutu ya Kevela).
1936
Faz a primeira oração pública, durante uma cerimónia fúnebre em honra do missionário metodista Robert Shields, organizada pelos evangelistas na Liga Nacional Africana.
1938
É-lhe atribuído o 1.º prémio num concurso de poesia promovido pela Igreja Lusitana Portuguesa. No jornal O Estudante, órgão dos alunos do Liceu Salvador Correia, publica um artigo intitulado «Heróis», em que refere os heróis do bem e do mal e critica os déspotas, exortando os colegas à solidariedade.
1942
Inicia a colaboração nos jornais O Estandarte, da Igreja Metodista, e O Farolim.
1943
Funda o Centro Evangélico da Juventude Angolana (CEJA), com o objectivo de apoiar alunos do ensino primário com dificuldades de aprendizagem, sobretudo na língua portuguesa. Integra o corpo redactorial de O Estudante.
1944
Com elevada classificação, conclui em Janeiro o curso do liceu, curso que suspendeu durante três anos lectivos, a fim de, por vontade dos pais, acompanhar o irmão mais velho que se atrasara nos estudos. Vai viver durante seis meses com os pais na região do Piri, Dembos, onde os camponeses lhe inspiram alguns poemas que mais tarde viria a destruir, considerando-os incipientes. Mediante concurso, ingressa no quadro administrativo dos Serviços de Saúde e Higiene de Angola, sendo colocado em Malanje.
1946
É transferido para os Serviços de Saúde do Bié. Publica, no jornal O Farolim, um artigo em que chama a atenção da juventude para os problemas da terra e das suas gentes, criticando a tendência para o «eurotropismo».
1947
Mercê das suas economias e com a perspectiva de uma bolsa de estudo (que mais tarde lhe seria atribuída),segue para Portugal, matriculando-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
1948
Publica poemas na revista Mensagem, da Associação dos Naturais de Angola. Eleito secretário-geral da delegação da Casa dos Estudantes do Império (CEI) em Coimbra. Inicia colaboração na revista Meridiano, órgão da delegação coimbrã da CEI.
1949
Participa na frente de apoio ao candidato da oposição à Presidência da República, general Norton de Matos. Edita, em parceria com Lúcio Lara e o moçambicano Orlando de Albuquerque, a publicação cultural Momento, apresentada em fascículos para evitar a censura prévia.
1950
Em Novembro, transfere-se para Lisboa, aí prosseguindo os estudos de Medicina.
1951
Funda clandestinamente o Centro de Estudos Africanos (CEA),de parceria com Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade, Marcelino dos Santos e Francisco José Tenreiro. Eleito representante das colónias portuguesas no seio do Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil.
1952
Preso em Lisboa, em 23 de Março, ao recolher assinaturas a favor da paz, num documento em que se defendia um pacto entre as cinco grandes potências mundiais: EUA, URSS, China, França e Inglaterra. Restituído à liberdade em 20 de Junho.
1953
Participa no III Congresso Mundial dos Estudantes, em Varsóvia, Polónia, e no IV Festival Mundial da Juventude, em Bucareste, Roménia, onde reivindicou o direito de os estudantes das várias «províncias ultramarinas» desfilarem isolados em representação das suas terras de origem.
1954
Participa na V Assembleia de Delegados do MUD Juvenil, sendo eleito para a respectiva comissão central. Participa na fundação em Lisboa do Clube Marítimo Africano, que estabelece ligações entre estudantes e trabalhadores marítimos, utilizando estes como «correios clandestinos» entre a Metrópole, a África e o Brasil.
1955
Preso pela PIDE, em 9 de Fevereiro, na qualidade de membro da comissão central do MUD Juvenil, começa por ser encarcerado no Forte de Caxias. Transferido, em 14 de Agosto, para a cadeia da PIDE no Porto. Contra a sua prisão e a de outros jovens democratas, numerosos intelectuais franceses, ou residentes em França, enviam em Novembro, ao Presidente da República Portuguesa, um telegrama de protesto em que figuram as assinaturas de Louis Aragon, Jean Cocteau, Jean-Paul Sartre, Tristan Tzara, Elsa Triolet, Simone de Beauvoir, Henri Lefebvre, Andres Kedros, Nicolás Guillén, Diego Rivera, Siqueiros, etc.
1956
O seu poema «Adeus à hora da largada», dedicado «a todas as mães negras cujos filhos partiram» é inserido no primeiro número do jornal Portugal Democrático, publicado em 7 de Julho em São Paulo, Brasil. A sua ausência é lamentada no 1.º Congresso de Escritores e Artistas Negros, que se realiza em Paris entre 19 e 22 de Setembro. Inicia-se, em 10 de Dezembro, no 1.º Juízo Criminal do Porto, o julgamento do chamado «Processo dos 52»,em que é um dos principais incriminados.
1957
Eleito «Prisioneiro Político do Ano» pela Amnistia Internacional. Em 12 de Junho, é restituído à liberdade, após ter sido condenado a 18 meses de prisão e à perda de direitos políticos por cinco anos, tendo sido levada em conta a prisão preventiva que sofrera. Participa, em Lisboa, na fundação do Movimento Anti-Colonialista (MAC),a cujo Directório fica a pertencer, juntamente com Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Eduardo dos Santos, Lúcio Lara e Noémia de Sousa.
1958
Obtém, em 27 de Outubro, a licenciatura pela Faculdade de Medicina de Lisboa. No mesmo dia da licenciatura, casa-se com Maria Eugénia da Silva. Profere, em Novembro, uma palestra cultural na Casa dos Estudantes do Império.
1959
Especializa-se em pediatria no Hospital de D. Estefânia e frequenta o Curso de Medicina Tropical no Hospital do Ultramar. Nasce, em 9 de Novembro, o seu filho Mário Jorge. Regressa a Angola, embarcando em 22 de Dezembro no cais da Rocha do Conde de Óbidos.
1960
Abre consultório em Luanda, no bairro de S. Paulo, onde é assistido por sua mulher, Maria Eugénia. *Participa em reuniões com vários grupos de patriotas que tinham por desígnio a libertação colonial. *É indigitado para a direcção, no interior do território angolano, do recém-criado MPLA, que se apresenta em Janeiro na II Conferência dos Povos Africanos, em Tunes. *Em 8 de Junho, é preso pessoalmente pelo subdirector da PIDE no seu consultório, devido ao facto de ter sido detido, com documentos comprometedores, um mensageiro que o MPLA enviava ao exterior. *O povo da sua terra natal, ao saber da sua prisão, manifesta-se espontaneamente junto do edifício da administração do concelho, sendo alvo de uma violenta repressão, traduzida na morte de 30 pessoas e de 200 feridos, facto que passou à história como «o massacre de Icolo e Bengo». *Perante a agitação gerada pelo seu encarceramento, em Agosto é transferido para Lisboa, com a promessa (não cumprida) de que ao desembarcar seria posto em liberdade. *Deportado para Cabo Verde em 15 de Outubro, é-lhe fixada residência na ilha de Santo Antão como subdelegado de Saúde, sendo mais tarde transferido para a Praia, na ilha de Santiago, em cujo hospital (que hoje tem o seu nome) exerceu medicina. *O seu primeiro livro de poemas é editado em Lisboa pela Casa dos Estudantes do Império, na colecção «Autores Ultramarinos». A direcção do MPLA no exterior (liderada por Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz e Lúcio Lara) designa-o «Presidente de Honra».
1961
Em 23 de Julho, nasce em Lisboa a sua filha Irene Alexandra, que só terá ocasião de ver em 17 de Setembro, dia em que perfaz 39 anos e em que a menina e a mãe desembarcam em Cabo Verde. *É novamente preso, em 26 de Setembro, sob a acusação de ter exibido uma foto em que militares do exército colonial ostentavam orgulhosamente a cabeça de um guerrilheiro angolano espetada num varapau. Em 10 de Outubro é transferido para Lisboa, dando entrada na prisão do Aljube no dia 17. Preocupados com a sua situação, alguns dos mais prestigiados escritores ingleses manifestam-se em sua defesa nas páginas do Times, em 10 de Outubro, subscrevendo tal documento nomes como Doris Lessing, Iris Murdoch, John Osborne, Angus Wilson, C. Day Lewis e outros.
1962
Em consequência da pressão exercida sobre as autoridades portuguesas por um grande movimento de solidariedade internacional, é libertado em 24 de Março, ficando sob regime de residência fixa em Lisboa. Obtém autorização para exercer medicina em Lisboa, no Hospital de Santa Marta. Graças a uma operação montada pelo PCP, em 30 de Junho foge de barco para Rabat, Marrocos, acompanhado pela família. Em Julho, chega a Léopoldville, onde o MPLA tinha então a respectiva sede, tendo realizado uma conferência de imprensa com larga repercussão. Em 1 de Dezembro, é eleito presidente do Bureau Político e do Comité Director do MPLA, durante a respectiva Conferência Nacional, em Léopoldville, que marca a sua cisão com Viriato da Cruz, o qual se junta ao movimento rival: FNLA.
1963
Em Janeiro, abre em Cabinda a 2.ª Região Político-Militar, onde passam a formar-se os quadros da luta de libertação. No início do ano, realiza uma viagem por várias capitais, em que procura dar a conhecer o seu ideário político em busca de apoios, começando por Washington e seguindo-se Rabat, Argel, Tunes, Bona, Londres, Paris e Roma. De 17 a 20 de Fevereiro, está em Milão, onde assiste ao lançamento de uma colectânea de poemas de sua autoria, organizada e traduzida por Joyce Lussu e intitulada Con Occhi Asciuti (Com os Olhos Secos). Em Maio, participa em Adis Abeba na conferência constitutiva da Organização de Unidade Africana (OUA). Em Junho é preso temporariamente, com Lúcio Lara, pela polícia de Léopoldville, no decorrer de um assalto policial à sede do MPLA. Em Julho, transfere a Delegação do MPLA de Léopoldville para Brazzaville, em virtude de a República do Zaire ter confinado o seu apoio ao GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio, criado pela FNLA em coligação com o Partido Democrático de Angola), entretanto reconhecido pela OUA e pela Argélia. Ainda em Julho, com o objectivo de apresentar uma coligação rival da FNLA-GRAE, em virtude de a OUA ter decidido canalizar fundos apenas para as frentes de combate, proclama a Frente Democrática de Libertação Nacional (FDLA), integrando MPLA, MNA, N’Gwizako e UNTA, cuja duração seria efémera. Em Agosto, chefia a delegação do MPLA que em Dacar tenta obstar ao sancionamento das decisões da OUA favoráveis ao GRAE.
1964
De 3 a 10 de Janeiro, preside à Conferência de Quadros, em Brazzaville, que gera o Movimento de Reajustamento e define a estratégia para uma guerra popular de longa duração. Em 5 de Janeiro, no decorrer da Conferência de Quadros, nasce a sua última filha, que tomou o nome de Leda, mas que, atendendo às circunstâncias, esteve para se chamar «Conferência». Assiste, em Paris, a uma reunião promovida pela Associação de Cooperação Franco-Africana, comemorativa do 4 de Fevereiro. Em Fevereiro, é-lhe recusada a entrada em Inglaterra, onde deveria usar da palavra numa reunião promovida pelo Movimento de Libertação das Colónias. Ainda em Fevereiro, volta a chefiar a delegação do MPLA à reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da OUA, para combater o reconhecimento do GRAE. Em Junho, chefia uma delegação do MPLA que durante 15 dias visita a República Popular da China, seguindo depois para Moscovo. De 31 de Outubro a 9 de Novembro, visita Acra, capital do Gana. Em 18 de Novembro, regressa a Brazza, após uma visita aos postos do MPLA na fronteira de Angola, acompanhado por Deolinda Rodrigues e Aníbal de Melo. É oficialmente interdita a sua entrada em França.
1965
Em Janeiro, volta a visitar Acra e segue depois para a Checoslováquia. Em Fevereiro, visita o Centro de Instrução Revolucionária (CIR), em Dolisie, e os centros político-militares do MPLA. Em Abril, ao dirigir-se à Bechuanalândia, é entrevistado pelo correspondente do Pravda na África Central, manifestando o seu agradecimento à URSS pelo apoio recebido. De 9 a 16 de Maio, chefia a delegação do MPLA à 4.ª Conferência de Solidariedade Afro-Asiática que se realiza em Wineba, Gana. Em Setembro, visita a Jugoslávia, seguindo de Belgrado para o Cairo a fim de assistir à reunião do «Comité dos 3» da OUA, encarregado de reconciliar os movimentos nacionalistas africanos. De 3 a 7 de Outubro, chefia a delegação do MPLA à 2.ª reunião da CONCP, em cujo executivo passa a substituir Mário Pinto de Andrade.
1966
Abre a Frente Leste na 3.ª Região Político-Militar, que abrange o Moxico e o Cuando-Cubango. Passa uma semana no Cairo, onde é recebido pelo Presidente Nasser, e volta à capital da RAU (República Árabe Unida) em Dezembro, avistando-se desta vez com o ministro da Informação. Em Junho, desloca-se à Suíça, a fim de assistir, em Genebra, às reuniões do Congresso Mundial da Paz e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). De 27 a 31 de Agosto, participa na reunião da CONCP, que se reúne em Brazzaville. Também em Brazzaville, participa no Congresso dos Estudantes Angolanos.
1967
Lança a palavra de ordem «Generalização da Luta Armada a Todo o Território Nacional». Sofre um duro revés com o ataque da FNLA ao esquadrão Kamy, sendo chacinadas várias guerrilheiras, incluindo a lendária Deolinda Rodrigues de Almeida, fundadora da OMA e membro do comité director do MPLA. Volta ao Cairo, onde permanece de 6 a 9 de Maio para assistir ao encerramento da Pequena Conferência Africana de Alto Nível e, ao ser entrevistado pelo jornal El Gamhoureya, declara não ser marxista, embora tenha lido Marx e Lenine e visitado várias vezes Moscovo, sublinhando que «o MPLA recebe assistência da URSS e dos países socialistas, mas tal não significa que tome o partido de Moscovo contra Pequim». Em Novembro, visita Moscovo.
1968
De 22 a 26 de Fevereiro, participa na primeira assembleia das I e II Regiões Militares, em Dolisie. Em cumprimento da palavra de ordem «Todos para o interior», leva a direcção do MPLA para o território angolano. De 23 a 25 de Agosto, participa na primeira assembleia da III Região Militar, que se realiza no interior de Angola, no acampamento denominado Hanói II. É publicado em servo-croata o seu livro A Sagrada Esperança. Publicadas recolhas dos seus poemas, em russo e chinês.
1969
Em Julho, na companhia de Amílcar Cabral (PAIGC) e Marcelino dos Santos (Frelimo), é recebido em audiência pelo Papa Paulo VI, à margem da Conferência Internacional de Solidariedade para com os Movimentos de Libertação Nacional das Colónias Portuguesas, que se realiza em Roma. É-lhe outorgado o Prémio Lotus pela IV Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos, em Alma-Ata. Em Agosto, visita a Roménia, onde fala das actividades do MPLA e dos planos futuros para Angola.
1970
A revista AfricAsia, no seu n.º 9, referente à segunda quinzena de Fevereiro, difunde as suas declarações numa entrevista em que faz o balanço de nove anos de guerra e comenta a situação política de Portugal após a substituição de Salazar por Marcelo Caetano. Em Maio, visita Adis Abeba, sendo recebido pelo imperador da Etiópia, Hailé Selassié. Ainda em Maio, desloca-se ao Egipto a convite do Governo da RAU, seguindo para Lagos, Nigéria, onde manteve conversações com o ministro dos Estrangeiros sobre o fornecimento de armas. Em Junho, efectua uma viagem aos países escandinavos, Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia, e neste último país é recebido pelo primeiro-ministro, Olof Palme. De 27 a 30 de Junho, preside à delegação do MPLA que se desloca a Roma para participar na Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas. Em 7 de Agosto, numa conferência de imprensa em Dar-es-Salam, apresenta três jornalistas soviéticos (Oleg Ignatiev, Anatole Nikanorov e Pavel Mikhalev) que tinham estado a fazer reportagens no interior de Angola, em áreas controladas pelo MPLA. De 8 a 10 de Setembro, participa, como observador, na Conferência de Alto Nível dos Países Não-Alinhados, realizada em Lusaka, Zâmbia, e no final usa a palavra em representação de todas as organizações em luta contra o colonialismo português.
1971
Visita a Roménia, a convite do respectivo partido comunista. Em Julho, visita de novo a República Popular da China. De 27 a 30 de Outubro, participa na I Reunião Plenária do Comité Director do MPLA,realizada na base Kitexe II, na Zâmbia. Em Novembro, o IV Congresso de Escritores Afro-Asiáticos atribui-lhe o Prémio «Rotas». Em Dezembro, participa na 5.ª sessão da Organização de Solidariedade Afro-Asiática que se reúne no Cairo.
1972
Tenta um entendimento com a FNLA, para a formação de um Conselho Supremo de Libertação de Angola, mas o acordo (realizado sob a égide do Presidente do Congo-Brazza, Marien Ngouabi, na presença do Presidente do Congo-Kinshasa, Mobutu), é de curta duração. Participa, em Milão, num encontro com outros representantes dos movimentos de libertação das colónias portuguesas. Desloca-se à República dos Camarões, sendo recebido em Yaoundé pelo Presidente Amadoud Aidjon, circunstância a que não será alheio o facto de o novo secretário-geral da OUA ser camaronês.
1973
Enfrenta o fraccionismo de Daniel Chipenda, que lidera a chamada Revolta do Leste, assente em ideias tribais e regionalistas. Enfrenta a oposição de um numeroso grupo de intelectuais históricos do MPLA, agrupados na chamada Revolta Activa, que o acusam de «presidencialismo».
1974
Em Fevereiro, publica-se em Dar-es-Salam, na Tanzânia, a versão inglesa do seu livro de poesia A Sagrada Esperança, com tradução de Marga Holness. Na sequência do golpe revolucionário de 25 de Abril em Portugal e do reconhecimento, pelo novo regime português, do direito das colónias à independência, assina em Outubro o cessar-fogo nas chanas do Lunhameje, Moxico.
1975
Em 5 de Janeiro, assina em Nakuru, no Quénia, um acordo de princípios entre o MPLA, a FNLA e a UNITA, para o estabelecimento de conversações conjuntas com o Governo português. Desloca-se a Portugal, onde assina, em 15 de Janeiro, os Acordos de Alvor, subscritos pelo MPLA, FNLA e UNITA, bem como pelos representantes do Governo provisório português. Em 4 de Fevereiro, regressa a Luanda, onde é alvo de um acolhimento popular triunfal, sem precedentes na história de Angola. Em Agosto, o Governo de transição desfaz-se e os três movimentos acantonam-se nas suas áreas de influência, MPLA em Luanda, FNLA ao Norte, com o apoio de forças zairenses, e UNITA ao Sul, apoiada pelos sul-africanos, pelo que lança a palavra de ordem «Resistência Popular Generalizada». Em 11 de Novembro, com o poder do MPLA praticamente confinado a Luanda, onde a 30 km se trava a decisiva batalha de Kifangondo, proclama a independência nacional, sendo investido no cargo de Presidente da República Popular de Angola.
1976
Graças ao apoio que solicitou e recebeu dos países socialistas, em especial dos combatentes cubanos e dos conselheiros e material soviéticos, as forças do MPLA atingem o rio Zaire em Fevereiro e o rio Cunene em Março, derrotando os exércitos da FNLA e da UNITA e expulsando os invasores zairenses e sul-africanos, pelo que manda celebrar o «Carnaval da Vitória». Participa na Conferência de Chefes de Estado e de Governo do Movimento dos Países Não-Alinhados, no Sri Lanka, e na Cimeira dos Países da Linha da Frente, em Dar-es-Salam, na Tanzânia. Toma posse do cargo de presidente da Assembleia Geral da União dos Escritores Angolanos (UEA). Preside à VI Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos, em Luanda. Em 25 de Abril, recebe a Medalha de Ouro da Cidade de Belgrado, a mais alta condecoração da República Federativa da Jugoslávia. Em 27 de Abril, recebe a Grande Faixa da Ordem de Méritos, atribuída pela República Popular da Polónia. Em 28 de Abril, recebe a Medalha de Ouro Joliot Curie, do Conselho Mundial da Paz. Em 1 de Maio, o Soviete Supremo da URSS atribui-lhe o Prémio Internacional Lenine. Em Junho, recebe o Prémio Dimitrof, atribuído pelo Conselho de Estado da República Popular da Bulgária. Em Julho, visita Havana e recebe a Medalha de Ouro da Ordem Playa Giron, atribuída pelo Conselho de Estado da República Socialista de Cuba. Em 1 de Agosto, proclama as FAPLA-Forças Armadas Populares de Libertação de Angola.
1977
Em 27 de Maio, enfrenta a maior crise da história de Angola independente, com o golpe de Estado desencadeado por uma facção do MPLA liderada por Nito Alves, situação que gera um banho de sangue de fundas repercussões em todos os sectores da sociedade angolana. Agraciado, em Dezembro, com o título de Herói Nacional pelo 1.º Congresso do MPLA, em que é criado o Partido do Trabalho.
1978
Proclama o «Ano da Agricultura». Em 19 de Janeiro, é distinguido com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lagos, Nigéria. Recebe, em Luanda, o secretário-geral das Nações Unidas, Kurt Waldheim, além de vários líderes de partidos e presidentes de países africanos. Recebe, em Luanda, o Presidente cubano, Fidel Castro. Em 25 e 26 de Junho, encontra-se em Bissau com o Presidente da República Portuguesa, general Ramalho Eanes, com o objectivo de regularizar as relações entre Angola e Portugal. Participa, em Cartum, na 15.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Organização de Unidade Africana (OUA), em que Angola é admitida como membro. Em 20 de Agosto, com o fim de pôr termo às hostilidades na fronteira norte de Angola, encontra-se em Kinshasa com o presidente Mobutu, recebendo-o depois em Luanda, em 15 de Outubro. É-lhe conferido, a 30 de Setembro, o título de Cidadão Honorário da República Popular de Moçambique.
1979
Proclama o «Ano da Formação de Quadros». Preside, em 8 de Janeiro, ao acto de posse dos dirigentes da União de Escritores Angolanos. É-lhe atribuída, em 4 de Fevereiro, a Medalha «17 de Novembro» pela União Internacional de Estudantes. Preside ao encerramento da VI Conferência de Escritores Afro-Asiáticos, realizada de 26 de Junho a 3 de Julho. Profere no Uíge, em 22 de Agosto, o seu último discurso, em que lamenta «não poder ser mais longo por causa da minha voz não estar clara, não estar muito boa». Transferido de emergência para Moscovo, a fim de ser submetido a uma intervenção cirúrgica, morre em 10 de Setembro.