África e Ásia reunidas em Jacarta

Fotografia: Rogério Tuti

Fotografia: Rogério Tuti

O Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, participa a partir de hoje, em Jacarta, em representação do Chefe de Estado, na Conferência Ásia-África que reúne líderes dos dois continentes para marcar os 60 anos da história do acontecimento que ajudou a forjar uma identidade comum entre os Estados africanos e asiáticos emergentes.

Além do Vice-Presidente da República, outros líderes africanos participam nas comemorações, com realce para o Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe. Hoje e amanhã, a Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo decorre no Centro de Convenções de Jacarta. Na sexta-feira, os líderes africanos e asiáticos deslocam-se a Bandung, onde tem lugar o ponto alto e o culminar das celebrações dos 60 anos da Conferência de Bandung.

Reforma da ONU

O ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, lembrou, em Jacarta, o interesse dos países africanos e asiáticos, que têm quase 75 por cento da população mundial, de promoverem a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para que possa haver mais justiça no órgão em si, mas também na solução dos problemas do mundo. “Temos bons argumentos para trabalhar em conjunto  e manter a solidariedade. Todos queremos a reforma e muitos acham que é o momento certo da mudança”, sublinhou o chefe da diplomacia angolana.
Georges Chikoti lembrou que o Conselho de Segurança tem apenas cinco membros permanentes com três países (Inglaterra, França e Estados Unidos) que representam menos de um terço da população  mundial. Sublinhou que “se não houvesse um outro membro como a Rússia, que nos últimos anos teve de usar o seu poder de veto, tínhamos um mundo cada vez mais catastrófico. O que queremos é um Conselho de Segurança mais aberto, pois temos a Inglaterra, França e Estados Unidos que controlam o essencial do poder”.
Angola defende mais representantes da América Latina, África e Ásia como membros permanentes do Conselho de Segurança para um mundo não monopolizado.
O ministro Georges Chikoti afirmou que se aumentar o número de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, também se podem aumentar os não permanentes. Depois desse aumento, disse, vemos como ajustar os não permanentes e como a Assembleia-Geral vai funcionar. “São 70 anos de existência das Nações Unidas. É preciso mudar o actual formato a partir de agora”, defendeu.
O embaixador de Angola em Singapura, Fidelino Figueiredo, considerou promissoras as relações entre os dois países e outros Estados da região. O diplomata informou que existem áreas concretas para o investimento, tendo em conta as prioridades do Estado, fundamentalmente nas infra-estruturas para a exploração mineira, já que o país tem de encontrar novas fontes de rendimento. Por isso, Angola tem estado em contacto com investidores interessados nas potencialidades do país. O embaixador anunciou, para  Junho, a vinda a Angola de uma missão empresarial de Singapura. Antes da vinda dos empresários, realiza-se em Singapura um fórum económico entre os dois países.

Relações com a Indonésia

O ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, e da Indonésia, Retno Marsudi, consideraram prioritária a abertura de Embaixadas nos respectivos países, para facilitar o comércio bilateral e o fortalecimento das relações de cooperação política e económica. Os dois ministros realizaram ontem, em Jacarta, conversações bilaterais em que manifestaram interesse de intensificar as relações de cooperação com alguma brevidade. “Consta das nossas projecções futuras para a zona da Ásia a abertura de uma Embaixada aqui, na Indonésia, e uma, eventualmente, em Timor-Leste e ainda outra na Austrália”, disse o ministro Georges Chikoti à imprensa no final da reunião.
Da parte da Indonésia, o interesse em abrir uma Embaixada em Luanda está expresso, já que Angola é o terceiro parceiro económico na África Austral. Georges Chikoti disse que a abertura das embaixadas pode demorar algum tempo. “Não é possível abrir já essas embaixadas, dado o tempo difícil que atravessamos, mas pelo potencial económico da Indonésia e dessa região, não podemos ficar fora dela”, sublinhou, para quem as trocas comerciais entre Angola e Indonésia têm crescido 27 por cento ao ano.
A ministra dos Negócios Estrangeiros da Indonésia pediu o apoio de Angola à candidatura de Jacarta a membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, uma questão que deve merecer a atenção das autoridades angolanas. No encontro foi manifestada a intenção de Jacarta importar alguns produtos de Angola, numa altura em que os acordos entre a Sonangol e a petrolífera da Indonésia indicam que existe uma boa cooperação nesse domínio.
O chefe da diplomacia angolana disse que o fundamental, nesta fase, é que os dois Governos encorajem todas as iniciativas capazes de potenciar o crescimento. “É uma zona que consome e eles estão dispostos a importar alguns produtos de Angola. Já o fazem com petróleo”, notou. A Indonésia tem contribuído para a formação de alguns técnicos no Projecto Angola LNG e pretende continuar a formação. O ministro lembrou que foi submetido à Indonésia um projecto de acordo sobre a cooperação bilateral e disse que se está a ver a possibilidade de assinar este acordo dentro dos próximos tempos, quando a parte indonésia concluir a apreciação do documento. Após a conclusão, referiu, é possível fazer visitas regulares, abrindo caminho para a intensificação das relações de cooperação entre os dois Estados.

Parcerias empresariais

Na reunião foi abordada a questão de parcerias entre empresários dos dois países nos mais variados ramos da economia. “Notamos que a Indonésia tem uma grande capacidade industrial e estão dispostos a entrar em parcerias com empresas angolanas. Acho que é um país que pode cooperar largamente com Angola”, sublinhou Georges Chikoti, que destacou as grandes vantagens que aquele país pode oferecer no segmento da indústria de materiais de construção, agricultura tropical e também na área de construção de estradas.
A ministra Retno Marsudi destacou o grande momento na cooperação entre os dois países e a necessidade de aumentar as exportações para Angola.

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