Angola encaixa mais de EUR mil milhões em acordos

 

PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO NA FÁBRICA DA AIRBUS EM TOULOUSE FOTO: LINO GUIMARÃES

PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO NA FÁBRICA DA AIRBUS EM TOULOUSE
FOTO: LINO GUIMARÃES

30 Maio de 2018 | 04h26 – Actualizado em 30 Maio de 2018 | 04h25

Mais de mil milhões de euros foram “encaixados” junto de parceiros económicos, como resultado dos acordos assinados por Angola e França, no quadro da visita oficial do Presidente da República, João Lourenço.

O pacote financeiro compreende 100 milhões de euros, cedidos pela Agência de Desenvolvimento da França (ADF), destinados para apoiar a actividade agrícola.

O chefe de Estado angolano liderou uma comitiva multi-sectorial na sua primeira deslocação a um país da União Europeia e cumpriu uma agenda diversificada com encontros com autoridades empresariais de topo em França.

Destaca-se igualmente o acordo de facilitação financeira, assinado com o Credit Agricole também de França, para financiamento de projectos de até 500 milhões de euros, além do protocolo para apoio técnico à elaboração de projectos que captou 00 mil euros.

No balanço, o ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, confirmou os dados e acrescentou que o “pacote financeiro”, a par do rubricado no sector dos petróleos, nomeadamente o investimento que a operadora Total vai fazer nas áreas de exploração e de distribuição, conseguiu-se um acordo para concessão de 50 bolsas a estudantes do sector petrolífero.

“O envelope financeiro resultante desta visita ultrapassa os mil milhões de euros. Os resultados foram para além das expectativas”, disse aos jornalistas o governante, à saída de um encontro que o Presidente da República manteve, numa mediateca em Toulouse, com a comunidade angolana.

Além de ter estado no Palácio de Eliseu, em Paris, com o seu homólogo francês Emmanuel Macron, na segunda-feira, João Lourenço assistiu à assinatura dos acordos no domínio da defesa; Convenção com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) no campo da Agricultura; Convenção sobre a subvenção dos estudos com o Fundo para Expertise e o Reforço das capacidades da Agência Francesa de Desenvolvimento; e Estabelecimento do Proparco – Promoção e participação para Cooperação Económica – filial da AFD para o sector privado.

Visitou unidades fabris da companhia aeronáutica Airbus, bem como a montadora ATR (Aviões de Transportes Regionais); a sede da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO); Escola Politécnica (Paris); Liceu Agrícola; Instituto Nacional de Investigação Agronómica em Auzeville (Toulouse); Cooperativa Agrícola Arterris (Castelnaudary, Toulouse); participou de fórum económico com 80 empresários influentes em França e no último dia juntou-se à comunidade para ouvir suas preocupações e tranquilizá-la com mensagem de esperança.

Parceria estratégica com outra dinâmica

A França é um parceiro estratégico de Angola, conforme assegurou à imprensa o Presidente da República, no encontro o francês Emmanuel Macron.

Para esclarecer o significado da nova etapa no relacionamento entre as duas nações, o ministro Manuel Augusto disse que agora se aguarda que a parceria se traduza em acções concretas e em projectos de impacto.

As visitas a alguns empreendimentos do sector agro-pecuário abriram também outras perspectivas para cooperação com a potência europeia. O desenvolvimento de projectos agrícolas, com base nas novas tecnologias e apoio francês, modelos recentes de organização, como os constatados, nas cooperativas, em Toulouse, foi apontado como caminho certo para o sucesso.

Angola e a posição em relação à RD Congo

Os dois chefes de Estado, ambos estreantes na presidência dos seus países, aproveitaram o “momento” para falar da situação internacional, com atenção à África Central e ao processo político em curso na RDC.

Sobre isso, João Lourenço e Emmanuel Macron convergiram, sendo que o anfitrião (europeu) se mostrou disposto a ajudar sempre que for solicitado, embora tenha reconhecido o papel de Angola nessas regiões.

Os presidentes divulgaram uma declaração conjunta, onde a França e Angola se engajam a cooperar no sentido de ajudar a RD Congo, as autoridades daquele país e as outras forças políticas a terem em conta o processo eleitoral previsto para Dezembro.

Manuel Augusto disse que “Angola é um país vizinho da RDC e o interesse reside na necessidade de haver estabilidade, segurança nas suas fronteiras”, já que os dois povos mantêm laços históricos”.

“Por essa, razão o processo na RDC não pode passar indiferente para as autoridades e para o povo angolano”, referiu, reforçando que “não assiste (a Angola) nenhuma intenção de interferir no processo político na RDC”.

Na qualidade de paíse vizinho ou como presidente do órgão para Política e Defesa da região da SADC, no desempenho de responsabilidades, Manuel Augusto entende que Angola tem obrigações para acompanhar de perto o processo na RDC.

Em reacção às declarações do PR João Lourenço, um porta-voz da RDC disse que mais uma vez estava-se a falar do seu país sem que os principais interessados estivessem no local.

Manuel Augusto referiu que seria muito difícil levar um representante da RDC a todo o lugar que se pudesse falar do país vizinho. “Somos da região, para ser só mais restrito”.

Mais do que isso, Angola preside o órgão para a Defesa, Política e Segurança da SADC. O ministro explicou que nessa qualidade é o responsável por tudo que diz respeito à paz e segurança na região.

Para o governante, Angola aborda casos da RDC, Madagásgar e Lesotho com a mesma responsabilidade, apesar de reconhecer que o “vizinho”, por maioria da razão, confere o direito de falar dela.

“Não vou comentar o que disse o porta-voz. O que ele disse é da sua responsabilidade, mas é evidente que é esta mesma Angola, aquela que a RDC tem recorrido para todo o tipo de apoio”, desabafou.

Manuel Augusto referiu que o país tem responsabilidades sobre o país vizinho e reiterou o desejo de ver a paz e a estabilidade prevalecerem para que o povo congolês possa beneficiar das riquezas, o que só será possível com um ambiente de harmonia.

Encontro à vista com Kabila

Joseph Kabila, Presidente da RD Congo, poderá deslocar-se a Luanda ao encontro do seu homólogo angolano, João Lourenço, nos próximos dias, anunciou nesta terça-feira Manuel Augusto.

“É uma viagem aprazada desde a sua última passagem por Luanda, no âmbito da Cimeira da Dupla-Troika. E nessa altura ficou acertada uma deslocação próxima”, sublinhou o ministro das Relações Exteriores. “Angola é um país sério e tem demonstrado”, concluíu.

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