Anunciada construção de monumentos em memória às vítimas de Cassinga

VISITA DO PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO A REPÚBLICA DA NAMÍBIA FOTO: JOAQUINA BENTO

VISITA DO PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO A REPÚBLICA DA NAMÍBIA
FOTO: JOAQUINA BENTO

03 Maio de 2018 | 23h20 – Actualizado em 04 Maio de 2018 | 10h29

Os governos de Angola e da Namíbia assumiram esta quinta-feira, na capital namibiana, o compromisso de erguer nos próximos tempos dois monumentos nas localidades de Cassinga (Huíla) e Chetequera (Cunene), para homenagear às vítimas do massacre de Cassinga perpetuado pelo exército sul-africano contra um campo de refugiados namibianos.

O ataque de Cassinga, que teve início a 04 de Maio de 1978, foi a segunda grande operação militar do então exército racista da África do Sul em Angola, depois da “operação savana”. Para além do campo, a acção visou ainda a delegação da SWAPO em Chetequera, no interior de Angola.

Ao massacre de Cassinga, que vitimou milhares de cidadãos namibianos e também angolanos, o regime de apartheid chamou-lhe “Operação Reindeer”. “Reindeer” que significa rena, mamífero frequente na América do Sul, conhecido por caribú.

Cassinga era uma zona por onde passavam os refugiados como aqueles que escapavam do regime racista do apartheid vigente no Sudoeste Africano (actual Namíbia).

O compromisso para construção dos dois monumentos foi assumido pelos presidentes de Angola, João Lourenço, e da Namíbia, Hage Geingob, durante uma conferência de imprensa conjunta realizada no Palácio Presidencial, em Windhoek, no quadro da visita de três dias que o Chefe de Estado angolano efectua àquele Estado vizinho.

A intenção fica já formalizada através de um acordo que será assinado na próxima semana entre as partes, em Angola, informou o Presidente João Lourenço, que acredita que tal pressuposto vai selar, ainda mais, os laços de consanguinidade entre os dois Estados.

“Existe já o compromisso das partes de construirmos um monumento que vai perpetuar a memória das pessoas que foram barbaramente massacradas pelas forças especiais do exército do Apartheid sul-africano”, aclarou o Estadista angolano.

Instado sobre o montante das verbas que devem ser alocadas pelos respectivos governos para a construção das duas infra-estruturas, o Presidente João Lourenço disse apenas que a vida das pessoas que pereceram naquelas duas localidades não têm preço e o dinheiro não é o mais importante no caso em concreto.

“Os números aqui não são chamados, a propósito. “Só podemos garantir que os monumentos vão ser construídos e que ambos os países assumem a responsabilidade pela construção desses monumentos”, atesta.

A mesma opinião foi partilhada pelo presidente namibiano, para quem o mais importante é a construção desses dois monumentos, para se ter um lugar onde se pode prestar a devida homenagem “aos nossos irmãos que partiram”.

“Na verdade, trata-se de um evento muito trágico. Algumas pessoas que aqui estão presentes estiveram por perto e acompanharam como o território angolano foi flagelado e bombardeado justamente por nos ter albergado”, vincou.

Entende que é necessário haver um serviço de aconselhamento e devido acompanhamento aos sobreviventes do massacre de Cassinga, que ainda se encontram perturbados pelo trauma.

Relações entre Angola e a Namíbia são excelentes

As relações de amizade, de vizinhança e de cooperação entre Angola e a Namíbia são excelentes e bastante profundas, mas há toda a necessidade de alimenta-las de forma permanente, considerou o Presidente da República, João Lourenço.

O Estadista angolano entende que os ministros e os empresários de ambos Estados têm a obrigação de verificar aquelas áreas de interesse comum que podem fazer desenvolver os dois países, a partir das potencialidades que cada um deles possui.

Segundo o Presidente João Lourenço, é necessário também pensar em infra-estruturas que mais facilmente possam ligar os dois países, nomeadamente estradas e caminhos-de-ferro, para escoar os produtos produzidos num e comercializados para o outro, a par de projectos de produção e distribuição de energia que possam servir os dois países.

No passado, os dois países trabalharam juntos no quadro de uma irmandade que foi forjada na luta de libertação nacional. O Chefe de Estado angolano acredita que, se os dois Estados continuarem juntos neste novo desafio, de  desenvolvimento económico e social, também vão sair vitoriosos.

Angola foi a principal plataforma da luta de libertação da Namíbia, que proclamou a sua independência no dia 21 de Março de 1990.

A 18 de Setembro desse mesmo ano, na cidade angolana do Lubango, dá-se formalmente o início às relações entre Angola e o recém-nascido Estado da Namíbia.

Os dois países rubricaram o Acordo Geral entre o Governo da então República Popular de Angola e o Governo da República da Namíbia sobre a Cooperação e a Criação da Comissão Mista Angolano-Namibiana.

A última reunião da Comissão Mista Angola e Namíbia teve lugar em 2013, tendo sido abordadas questões de interesse bilateral e os projectos em curso, que vão contribuir para o reforço das relações entre os dois países.

Em curso estão os trabalhos para a assinatura, em breve, do acordo transfronteiriço, bem como outros ligados ao sector da energia e para a construção de três pontes definitivas, para o impulso do comércio entre os dois países.

Angola e a Namíbia partilham uma fronteira terrestre de 1.376 quilómetros e desde 2007 a circulação de cidadãos dos dois países, nesta zona, é parcialmente livre.

FacebookTwitterGoogle+