Cabo Verde agradece ajuda

Fotografia: Rogério Tuti

Fotografia: Rogério Tuti

O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, recebeu ontem em audiência o ministro das Relações Exteriores de Cabo Verde, Jorge Tolentino Araújo, que foi portador de uma mensagem do Chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, na qual agradece, em nome da “nação cabo-verdiana”, pelo apoio humanitário “pronto e decisivo” por altura da erupção vulcânica na Ilha do Fogo.

À saída do Palácio da Cidade Alta, Jorge Tolentino Araújo disse à imprensa que o apoio humanitário dado por Angola a Cabo Verde, em meados de Dezembro do ano passado, significou um \”ponto de viragem\” na capacidade de resposta das autoridades cabo-verdianas na assistência às populações afectadas.
\”O apoio decisivo, pronto e atempado de Angola significou um ponto de viragem na nossa capacidade de resposta à população afectada, e o Presidente da República e também o Primeiro Ministro e Chefe do Governo de Cabo Verde, entenderam que deveriam enviar um emissário para Angola transmitir ao Presidente José Eduardo dos Santos e a toda a Nação angolana este reconhecimento\”, declarou.
Em Dezembro, o Governo angolano apoiou Cabo Verde com equipamentos, meios materiais e produtos alimentares, respondendo a um apelo de ajuda solicitado pelas autoridades cabo-verdianas, na sequência da erupção do vulcão da Ilha do Fogo. O Executivo  disponibilizou, igualmente, dois aviões do tipo NA 72 e DASH-8.
Nessa visita a Angola, Jorge Tolentino Araújo fez-se acompanhar de Cristina Duarte, a ministra das Finanças e Planeamento, que concorre, por Cabo Verde, para presidência do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). As eleições acontecem em Maio.

Eleições no BAD

A ministra cabo-verdiana falou com os jornalistas angolanos sobre as principais linhas de força da sua candidatura ao cadeirão máximo do BAD. Cristina Duarte diz-se disposta a implementar as reformas necessárias para  que a instituição financeira continental seja mais eficiente e mais próximo dos governos africanos.
Caso vença a corrida à sucessão do ruandês Donald Kaberuka, a candidata cabo-verdiana pretende implementar o que chamou de \”plataforma programática\”, um conjunto de programas que, segundo disse, devem desembocar na saída paulatina da lógica de gestão da pobreza, para criação de riqueza, transformando o continente africano num \”grande player\” da economia mundial.
Cristina Duarte considerou excelente o trabalho desenvolvido por Donald Kaberuka, a quem reconhece o mérito pelos níveis de crescimento do BAD, últimos anos fruto do amplo programa de descentralização que foi desenvolvido, e atribuiu igualmente ao economista ruandês a credibilidade granjeada por aquela instituição financeira ao longo do mandato.

Mudar o paradigma

Mas a candidata cabo-verdiana mostra ambição e defende que o próximo presidente do BAD, deve ir além da consolidação do trabalho de Donald Kaberuca. Cristina Duarte defende um papel mais activo do BAD na mobilização dos financiamentos para a infraestruturação do continente africano. \”África tem um défice estrutural e crónico em termos de infraestruturas, necessita de biliões, e o BAD numa lógica mais colaborativa com todo o sistema financeiro e bancário em África, pode e deve mobilizar mais recursos para o continente\”, defendeu.
No plano de acção da candidata cabo-verdiana, a mulher e o sector privado assumem um protagonismo diferente.  Em relação à mulher, referiu, há que ter em conta o seu papel na geração de riqueza nas economias africanas, em especial no sector ligado à agricultura.
\”Nos últimos anos todas as  políticas económicas a nível dos países africanos chegaram à conclusão que a agricultura deve ser recolocada no centro das atenções e a mulher tem que ser chamada a ter um papel mais activo, e a ter mais acesso aos financiamentos, à formação e às oportunidades de negócios\”, sublinhou.
Para Cristina Duarte, o sector privado africano deve ser chamado a assumir um protagonismo muito mais dinâmico na criação de riqueza a nível do continente. \”O BAD tem uma janela dedicada ao sector privado que neste momento constitui mais ou menos 25 por cento da carteira do banco. O que se pretende é que, juntamente com as outras instituições financeiras, possamos aumentar e servir melhor as necessidades de financiamento do sector privado africano\”, defendeu.

Única lusófona

Ministra das Finanças e do Planeamento de Cabo Verde desde 2006, Cristina Duarte dirigiu o Citibank em Luanda. Primeira candidata lusófona a presidente do BAD, acredita ser chegado o momento de construir a integração económica regional de África \”a partir de baixo\”, tendo o sector privado como um dos principais protagonistas desse processo.
O facto de estarmos dispostos a aumentar e a tornar mais eficaz a janela para o sector privado, disse, significa que o BAD vai abraçar operações mais rentáveis e consequentemente apoiar a própria instituição nessa trajectória de consolidação da situação financeira.
Além de Cabo Verde, também a Tunísia já apresentou a candidatura do ex-diretor das Finanças Jelloul Ayyad ao cargo de presidente da instituição financeira, que tem na sua estrutura acionista os Estados Unidos, o Brasil, Japão e alguns países europeus. Os países regionais têm 60 por cento e os não regionais têm uma posição de  40 por cento.

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