Luau na rota do progresso

Fotografia: Francisco Bernardo

Fotografia: Francisco Bernardo

Três décadas depois, a estação ferroviária do Luau, Moxico, volta a receber o comboio do Caminho de Ferro de Benguela (CFB). Ontem, o Presidente José Eduardo dos Santos inaugurou a estação e outros empreendimentos socioeconómicos importantes para o desenvolvimento da região leste do país e do continente africano.

Um dia memorável para as populações do Luau, antiga vila Teixeira de Sousa, que entra para a história, por um lado, como a primeira localidade fora de Luanda, onde num mesmo dia foram entoados os hinos nacionais de três países diferentes, por outro, por receber de uma só sentada, um aeroporto, uma estação de caminho-de-ferro e uma ponte transfronteiriça com 40 metros de vão, três grandes empreendimentos, que marcam a reentrada do Luau na geografia económica continental.
O Presidente José Eduardo dos Santos, Joseph Kabila e Edgar Lungu viajaram juntos de comboio até à ponte transfronteiriça sobre o rio Luau. Um percurso de aproximadamente 12 quilómetros, que o Presidente angolano fez questão de faze-lo acompanhado com os seus homólogos e respectivas delegações, para mostrar que em Angola já é possível fazer uma viagem de comboio, relativamente rápida e confortável, e que com igual coragem e perseverança, os governos da República Democrática do Congo e da Zâmbia, podem proporcionar às suas populações.
Após o descerramento da placa inaugural, José Eduardo dos Santos, Joseph Kabila e Edgar Lungu desceram até às margens do rio Luau e plantaram árvores, simbolizando a amizade e fraternidade entre os três povos.
O momento foi testemunhado por milhares de congoleses da zona de Dilolo, que, do outro lado do rio, aplaudiam radiantes com a possibilidade cada vez mais real de que as locomotivas do CFB cheguem ao seu território e com elas o progresso.
Já durante o almoço oficial, os três líderes trocaram impressões sobre a actual conjuntura internacional e da região, em particular, e lançar as bases para uma agenda comum para as próximas fases do programa de relançamento do Corredor Transfronteiriço.

Rede transcontinental

A estação do Luau é o último ponto em solo angolano do ramal do CFB, que está ligado aos sistemas ferroviários da Zâmbia e da RDC. Através da ligação com a Zâmbia, é possível chegar à cidade da Beira, em Moçambique, passando por Lubumbashi, na RDC, e Ndola, na Zâmbia, e a Dar-es-Salam, na Tanzânia, junto ao Oceano Índico. Também está ligado, ainda que de forma indirecta, ao sistema ferroviário da África do Sul.
Com a conclusão das obras de reconstrução do CFB, espera-se por uma diminuição significativa dos custos de logística dos países e regiões encravados da África Austral, tanto nas importações como nas exportações de mercadorias. É esperado ainda um aumento da competitividade dos agentes económicos da região e a melhoria significativa do nível de vida das populações.
O “Corredor de Desenvolvimento do Lobito” constitui um importante sistema regional de infra-estruturas de transportes com o qual se espera promover o crescimento económico sustentável, dado o seu forte potencial de atrair e mobilizar o capital de investimento e o desenvolvimento das trocas comerciais nacionais e transfronteiriças.
Segundo o ministro dos Transportes, Augusto Tomás, o programa de reabilitação da rede dos Caminhos-de-Ferro de Angola representou ao longo da última década (2005-2015), um investimento próximo dos 3,5 mil milhões de dólares. A parcela correspondente ao CFB é de 1,9 mil milhões de dólares.
Augusto Tomás disse que Angola dispõe hoje de uma rede de infra-estruturas, capaz de alavancar o desenvolvimento económico e humano, assim como promover a coesão nacional.
“Não foram só os caminhos-de-ferro que foram reabilitados, foram também as estradas, os aeroportos, portos, escolas, centros de saúde”, disse o ministro que destacou o papel do CFB, no conjunto de empreendimentos que erguidos ao longo da extensão territorial angolana do Corredor de Desenvolvimento do Lobito.
O Corredor vai ligar o Porto do Lobito às regiões mineiras da República Democrática do Congo (província do Katanga) e da Zâmbia (Coperbelt), atravessando, a partir do Oceano Atlântico, todo o território angolano através das províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico. Este importante objectivo económico está a promover o surgimento de pequenas e médias empresas, e cria oportunidades de emprego ao longo das localidades situadas em território angolano e nos países-membros da SADC.

Melhorias nas águas

A Estação de Tratamento de Água do Luena, inaugurada ontem pelo Presidente da República, permite melhorar significativamente o abastecimento, afirmou o ministro João Baptista Borges. O projecto, que levou dois anos a ser concluído, consiste na retirada da água do rio Lumeje, a nove quilómetros da estação, para tratamento e distribuição.
A estação inaugurada ontem suporta cinco mil ligações domiciliárias e abastecer 105 chafarizes nos bairros Kwenha, Kapango, Alto-Campo, Zorró, Sangodo, Lavoco, Sahuambo, Sinai Novo e Velho e Aço.
O ministro João Baptista Borges lembrou que a cidade do Luena registava constrangimentos no abastecimento de água aos bairros periféricos.
O sistema moderno, com água devidamente tratada, referiu, oferece a qualidade desejada.
Quanto aos municípios do interior da província, disse que muitos ainda têm enormes dificuldades, mas que há um programa para atender todas as sedes. Em relação à energia afirmou que o Luena observa melhorias na rede de distribuição, que conta com mais de quatro mil clientes.

Mais ligações

O director nacional das Águas garantiu que até Junho ficam concluídas mais 63 mil quilómetros de rede de distribuição de água, mil ligações domiciliárias no Luena e que o projecto está executado em 92 por cento. Lucrécio Costa afirmou à imprensa que depois de concluído seguem-se 14 meses de assistência técnica para operação do sistema e que o projecto é co-financiado pelo Banco Mundial e pelo Executivo.
A par do projecto de edificação de infra-estruturas, referiu, nos últimos dois anos foram formados técnicos no Luena em matérias de tratamento, conservação e distribuição de água potável, repartidos em brigadas para tratarem de acções no âmbito do Plano Nacional de Conservação da Qualidade de Água (PNQA).
No próximo ano, anunciou, começa a ser construído o laboratório provincial à semelhança dos que há nas províncias de Benguela, Huíla e Cuanza Norte.

Hospital de referência

O Hospital Provincial do Moxico passa a ter ligação à Faculdade de Medicina do Huambo, afecta à Universidade José Eduardo dos Santos, promovendo, deste modo, uma abrangência regional do ponto de vista dos recursos humanos.
O ministro José Van-Dúnem salientou, à margem da cerimónia de inauguração do hospital, a grande expectativa que há em relação ao papel que vai desempenhar na prestação dos cuidados de saúde.
Com capacidade para internar 250 pacientes, o estabelecimento hospitalar está tecnicamente equipado para poder ser interligado a outros hospitais nacionais. O director do Hospital Provincial do Moxico, Ruben Pedro Inácio, disse à imprensa que a reabertura trouxe novos desafios aos profissionais do sector em termos de conhecimentos e tecnologias.
Entre as inovações do Hospital Provincial do Moxico, contam-se os serviços de Tomografia Axial Computarizada (TAC), hemodiálise, ortopantografia, estomatologia, otorrinolaringologia e serviços de autópsias

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