PR chega a Sochi para Cimeira Rússia-África
22 Outubro de 2019 | 19h14 – Actualizado em 22 Outubro de 2019 | 19h13
O Presidente da República, João Lourenço, já se encontra na cidade de Sochi, onde chegou por volta das 20h49 locais (18h49 em Angola), para participar na Cimeira Rússia-África, a decorrer quarta-feira (23) e quinta-feira (24).
Acompanhado da primeira-dama da República, Ana Dias Lourenço, João Lourenço foi recebido pelo governador da região de Krasnodar, Veniamin Ivanovich Condratiev.
O Chefe de Estado deve juntar-se, a partir de quarta-feira, à delegação angolana que integra cinco ministros, representantes da diplomacia angolana e membros do seu gabinete.
Em Sochi, o Presidente da República terá uma agenda preenchida, que contempla uma intervenção no dia da abertura da Cimeira (quarta-feira) e um encontro formal com o seu homólogo da Rússia, Vladimir Putin.
À margem do evento, tem previstas audiências com figuras influentes do universo político, social e económico da Rússia, entre elas dirigentes de bancos, de empresas industriais e agrícolas e produtoras de minérios preciosos como diamantes.
No quadro dessa missão presidencial em solo russo, está prevista a assinatura de acordos bilaterais em diversos domínios, com foco na formação de quadros e na implementação de uma indústria de fertilizantes em Angola.
João Lourenço volta ao território russo cinco meses depois da sua primeira visita de Estado a esse país, desde que assumiu as funções, a 26 de Setembro de 2017.
Desta vez, vem juntar a sua voz a um “coro” de líderes africanos que projectam uma nova página na cooperação multilateral com a Rússia, um dos principais investidores no continente.
Nos últimos anos, a potência europeia tem assentado a sua cooperação em várias áreas de especialização, com realce para os sectores da energia, segurança e diplomacia.
No quadro da sua política externa, a Rússia fez aumentar a balança comercial com os países de África, passando de USS 5,7 biliões, em 2009, para USD 20,4 biliões, em 2018, números ainda assim inferiores ao investimento chinês.
Dados apontam que só no sector da construção, a China investiu em África, desde 2005, USD 2 triliões, deixando Moscovo como parceiro alternativo, sobretudo para o apoio diplomático no conselho de segurança da ONU.
A Rússia consolida a sua cooperação com os africanos por via de uma aposta forte no setor de energia, em que detém larga experiência, além dos investimentos nas áreas de petróleo e gás, e dos conhecimentos nucleares.
Oferece igualmente cooperação militar e armas relativamente baratas a países com bolsas pequenas, mas com grandes problemas de segurança.
À semelhança das outras potências mundiais, a Rússia está de olho em África, que se torna cada vez mais importante pelo crescimento da sua população.
Estimativas indicam que a população africana deve dobrar até 2050 e a economia deverá expandir-se significativamente ao lado de seu consumo de energia.
Nova era na cooperação com Angola
Em relação à Angola, a Rússia tem uma forte intervenção em vários domínios, embora o volume de negócios seja agora mais reduzido, se comparado ao da era soviética.
Só em 2016, as exportações da Rússia para Angola somaram USD 567,9 milhões, enquanto as exportações angolanas para a Rússia somaram apenas USD 14.942.
A cooperação militar continua a ser uma das mais intensas e sólidas.
Até hoje, a Rússia (juntamente com Cuba) é o parceiro mais estratégico de Angola nesta área, devido ao seu papel histórico na guerra colonial e pós-independência.
O Governo angolano privilegia um modelo de cooperação assente na promoção, alargamento e incremento do diálogo político ao mais alto nível, bem como na criação de condições objectivas para a aproximação dos sectores de negócio e o desenvolvimento de parcerias privadas ou público-privadas.
A cooperação militar com a Rússia assenta na formação de quadros angolanos nas diferentes áreas do sector da defesa, sendo que este país é dos principais parceiros no processo de modernização das Forças Armadas Angolanas.
A expectativa das autoridades angolanas é aprofundar a cooperação militar e técnica, na medida em que Angola pode passar de mero consumidor para produtor.
Essa previsão foi avançada por João Lourenço, em entrevista recente (Março de 2019) à agência noticiosa russa TASS, em que afirmou que Angola gostava de evoluir do estado actual de comprador de equipamento militar e tecnologias russas para fabricante, e ter um ponto de montagem de equipamento militar russo no país.
Entretanto, a cooperação entre os dois estados alarga-se a outros domínios, como o da indústria mineira. A Rússia está presente na exploração de diamantes no projecto Catoca, 4º maior kimberlito do Mundo a Ceu aberto.
O país é responsável pela prospecção de mais de 60 por cento do diamante angolano.
O governo e os empresários russos estão também presentes no sector financeiro, particularmente por via do Banco VTB África, e cooperam no domínio da educação.
Actualmente, perto de mil e 800 angolanos fazem na Federação Russa cursos de licenciatura e pós-graduação, em áreas técnicas e profissionais como construção civil, engenharia, educação e medicina.
A cooperação entre os dois estados a nível da educação permitiu o envio de mais de 20 mil estudantes angolanos, para o ensino médio, licenciatura e pós-graduação.
Por altura da sua primeira visita de Estado à Rússia, em Abril último, o Presidente angolano expressou o desejo de continuar a ter a colaboração, abertura e disponibilidade da Rússia, para que os jovens angolanos cheguem às melhores universidades, institutos, escolas técnicas e outras instituições do ensino médio e superior, civis e militares.
Solicitou que a Rússia conceda bolsas de estudo destinadas a beneficiar jovens que se foram destacando pela sua dedicação e inteligência nas escolas de formação inicial.
Outra área em que as autoridades angolanas querem marcar passos na cooperação é a produção de fertilizantes, um dos temas que estará na “pauta” do encontro do Chefe de Estado angolano com entidades empresariais e políticas da Rússia, aqui em Sochi.
Trata-se de uma área de cooperação estratégica que as autoridades angolanas querem materializar, no quadro da forte aposta do governo no relançamento da agricultura.
Para tal, em Abril último, João Lourenço manifestou o interesse em cooperar com a Rússia neste domínio e deu “luz verde” para os empresários russos apostarem na produção de fertilizantes, tratores e alfaias agrícolas.
Afirmou que o excelente nível de relações políticas entre os dois países “não corresponde”, tendo apelado ao seu homólogo para ajudar junto das instituições russas no sentido de encorajar as empresas russas a buscarem oportunidades de negócios.
Será com esse quadro de cooperação e nesse contexto político, económico e comercial, que o Presidente da República tomará parte dos trabalhos da Cimeira Rússia-África, para a qual foram convidados 50 estadistas africanos.
Trata-se de uma experiência nova para as autoridades russas e um grande teste para o corpo diplomático deste país, que quer encontrar novas estratégias de cooperação com a África e garantir a sua ascensão como potência global.
A Cimeira Rússia-África visa destacar a expansão da cooperação política, económica, técnica e cultural entre África e a Rússia.
À margem deste evento, deve decorrer um fórum económico que terá a presença de líderes africanos e russos e representantes de grandes empresas, em que se prevê a assinatura de acordos comerciais, económicos e de investimento.