Presidente lança as sementes nas terras férteis da Quiminha

Fotografia: Francisco Bernardo

Fotografia: Francisco Bernardo

O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, lançou ontem as primeiras sementes para produção de milho em grande escala no projecto integrado de desenvolvimento agrícola da Quiminha.

O acto presenciado pelo Vice-Presidente, Manuel Vicente, os ministros de Estado, Manuel Hélder Vieira Dias e Edeltrudes Costa, e outros membros do Governo, marcou o arranque do cultivo deste cereal, que tem um papel fundamental na estratégia de diversificação da economia, já que além de servir para o consumo alimentar, vai impulsionar a produção de ração animal.
Com as condições criadas para o plantio – desde a rega à preparação de solos – é esperado que dentro de pelo menos seis meses tenhamos os primeiros resultados. No momento em que o Presidente colocava as sementes na semeadora, simbolizando o início do ciclo produtivo num dos projectos de maior impacto do sector agrário, centenas de populares que moram nos arredores, gritavam palavras de apoio ao líder do Governo.
“Dos Santos Amigo o Povo está Contigo” – era a expressão mais repetida por centenas de jovens, em sinal de encorajamento ao Presidente José Eduardo dos Santos para que siga em frente nessa aposta que vai beneficiar a população, com empregos directos, maior oferta de produtos frescos do campo, mas também com o acesso a serviços como água potável e energia eléctrica.
O Chefe de Estado observou no terreno a variedade de máquinas a serem utilizadas no processo de cultivo e conversou com alguns dos jovens que se vão encarregar de manuseá-las, nas distintas etapas da produção do milho e de outros produtos, especialmente a soja, num sistema de cultura de rotação.
No local, precisamente onde daqui a alguns meses deve estar coberto de espigas de milho, foi improvisado um auditório, com cobertura e sistema de amplificação sonora, para que fossem dadas explicações sobre o projecto ao Presidente e à comitiva que o acompanhou nessa visita em dia de Feriado Nacional, consagrado à Paz e à Reconciliação entre os angolanos.

4 de Abril

Data especial para o povo angolano, que celebra o fim da guerra e o início da era de paz e de progresso, o 4 de Abril passa a ter um significado ainda mais marcante para as duas primeiras famílias beneficiárias do projecto Quiminha, que ontem receberam os títulos de parcelas de terra para agricultura familiar.
É o caso do casal Major, que habita na região há mais de 40 anos. O senhor Dinis era a expressão viva da felicidade, depois de receber o título das mãos do Presidente da República. Acompanhado da esposa, dona Domingas, Dinis Major disse que com o que recebeu, precisava somente de um microcrédito para começar a produzir.
Feliz e ao mesmo tempo anciosa, Dona Domingas não vê a hora de mudar-se para a nova residência. Actualmente a trabalhar na Zona do Trinta, em Viana, lembra quão difícil era trabalhar a terra a contar somente com a chuva. “Com o sistema de rega e a nossa experiência em trabalhar a terra, vamos produzir muito mais do que antes, quando tínhamos que esperar pela época chuvosa”, comentou.

Efeito das visitas

Visivelmente emocionado, o ministro da Agricultura fez uma curta intervenção, em que falou das várias etapas do projecto, desde o seu lançamento em 2012, dois anos após a aprovação pelo Conselho de Ministros, ao momento em que se inicia a produção. Pedro Canga destacou a importância das visitas do Presidente José Eduardo dos Santos – estivera ali em Novembro passado, a acompanhar as obras de construção.
Pedro Canga referiu que a presença do Chefe de Estado no terreno, a ajuntar o acompanhamento na criação de condições para o êxito do projecto, acaba por dar mais força a todos os que dia e noite trabalham no terreno. “A nós cabe a responsabilidade de continuar a acompanhar, mas a grande responsabilidade é dos agricultores familiares e empresariais, para que os propósitos pelos quais o Presidente aprovou este projecto venham a ser atingidos com sucesso, produzindo alimentos para as famílias e criando empregos”, disse.

Pólo de produção

Quando estiver implantado a 100 por cento, o projecto integrado de desenvolvimento agrícola e regional da Quiminha vai fornecer anualmente mais de 50 mil toneladas de produtos diversos. Pedro Canga destacou a relação de complementaridade entre a produção em grande escala e a familiar.
“Esperamos instalar 300 famílias em parcelas de um hectare irrigado, parcelas de sequeiro e uma residência por cada agregado, oferecendo deste modo todas as condições para produzir e gerar rendimentos. São famílias que sempre viveram na região, que agora passam a ter muito melhores condições de produzir para o seu próprio consumo e para gerar rendas.” Pedro Canga lembrou ainda que as famílias instaladas no projecto Quiminha, como a do senhor Dinis Major, vão poder dedicar-se à actividade agrícola, num contexto bem diferente, por terem ali mesmo escolas, creches, hospital, centro de formação em gestão agrícola, além de energia eléctrica e água potável, que completam o quadro de benefícios às populações.
Localizado a cerca de 60 quilómetros de Luanda, entre as comunas de Cabiri e Bom Jesus, o projecto de desenvolvimento agrícola e regional da Quiminha compreende uma área total de cinco mil hectares, destinados à agricultura de grande escala e agricultura familiar.
O projecto prevê 22 milhões de ovos por ano e vários tipos de vegetais em grandes quantidades. As previsões apontam para que dentro de seis meses comecem a ser produzidos tomate, cebola, pimento, milho doce, quiabo, beringela, feijão-verde, repolho, alface, melão, cenoura, melancia, soja, batata, repolho, sorgo e soja.

Água de sobra

No conjunto de infra-estruturas do projecto, salta à vista o gigantesco reservatório de água. Foi precisamente esse o primeiro ponto da visita do Presidente da República. Com uma capacidade para 300 mil metros cúbicos, o reservatório central garante o abastecimento a todas as fazendas a serem construídas na Quiminha e às demais infra-estruturas.
Pedro Santos, responsável da empresa que construiu o reservatório, explicou à nossa reportagem que a água provém da Barragem da Quiminha e é canalizada por meio de condutas para o abastecimento do projecto, passando por um outro tanque de menor capacidade que tem o papel de regularizar a pressão antes de chegar às fazendas e à aldeia. São sete quilómetros de conduta, da barragem ao reservatório central, e outros sete até ao segundo tanque.
“Por ser uma zona em que a chuva se faz sentir com muita intensidade, o reservatório estará sempre preparado para o abastecimento, pois além da água que chega através das condutas, tem o complemento da acção da natureza, que também tem um papel fundamental no processo”, referiu o engenheiro.

Mercado interno primeiro

Presente na cerimónia de lançamento da produção de milho na Quiminha, o ministro do Comércio realçou o impacto do empreendimento no mercado de consumo de Luanda. Fiel Constantino considerou prematuro falar-se de exportações, pois, como disse, apesar de ser também um objectivo do projecto, a “grande aposta numa primeira fase é abastecer o mercado interno”.
O ministro falou ainda sobre a problemática da rede de distribuição, que acaba por ter impacto quer no consumo final quer na produção, na medida em que o consumidor queixa-se dos altos preços de bens produzidos localmente, e um número considerável de produtores reclama da dificuldade de escoar o que produz.
Para o ministro do Comércio, são vários os factores concorrem para esse cenário. “Dependendo do lugar onde é feita a produção, colocam-se várias dificuldades que vão desde o transporte aos meios de conservação dos produtos antes de chegar ao consumidor”, assinalou  Fiel Constantino, antes de referir-se aos investimentos públicos, “que num segundo momento, são entregues à gestão privada para deles tirar melhor rendimento”.

Investidor Privado

O ministro citou como exemplo a construção de grandes superfícies de armazenamento, como os centros logísticos e de distribuição. Falou ainda das cadeias de distribuição a nível do país que se espera revitalizar para depois contar com o “concurso e o engenho do investidor privado” para deles tirar melhores rendimentos.
Fiel Constantino defendeu que não é por falta de incentivos por parte do Estado que os investidores  privados não apostam forte na distribuição. “Os principais incentivos que dependem do Estado resumem-se aos grandes investimentos públicos que de resto têm sido feitos, ao criarem-se canais de circulação, estradas, caminhos-de-ferro, grandes centros de distribuição e logística, mais água e energia eléctrica. Ao fazê-lo, retira dos privados o ónus dos grandes investimentos”, assinalou o ministro.

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